segunda-feira, 23 de junho de 2008

1996/7 - S. Tropicais - Grandes Formatos

Agora chegou a vez dos GRANDES FORMATOS, da série Sonhos Tropicais, serem mostrados a vocês. Foi neste conjunto de pinturas onde aconteceram os maiores improvisos na construção da composições e do temas. Aqui, como comentei no primeiro texto desta série de postagens, comecei com exercícios de desenho quase que totalmente aleatórios, dos quais fui juntando partes diferentes para montar cada uma das pinturas apresentadas. Os títulos surgiram depois dos quadros prontos, alguns deliberadamente abertos para provocar a imaginação do expectador.

A técnica pictórica continuou sendo a "pseudoencáustica" (ou pasta de cera como a chamo atualmente) combinada com tinta a óleo ou apenas pigmentos, tudo sobre suporte rígido (mansonite montado em chassis de madeira). O contexto plástico também se matem: grafismo acentuado, claro-escuro exagerado e cromatismo intenso.


1- "A Pescaria - óleo e pasta de cera s/ mansonite - 120 X 61 cm - 1996.


2- "As Mulheres Liberadas" - óleo e pasta de cera s/mansonite - 122 X 90 cm - 1996.


3- "Cobras e Fenômenos" - óleo e pasta de cera s/mansonite -122 X 85 cm - 1996.


4- "Contato Imediato!" - óleo e pasta de cera s/mansonite - 113 X 91 cm - 1997.


5- "História de pescador" - óleo e pasta de cera s/mansonite - 122 X 80 cm - 1997.


6- "O Clube dos Mascarados"- óleo e pasta de cera s/mansonite - 122 X 90 cm - 1997.


7- "Pit Stop" - óleo e pasta de cera s/mansonite - 122 x 90 cm - 1997.


8- "Os Adoradores do Crepúsculo"- óleo e pasta de cera s/mansonite - 122 X 80 cm - 1997.

Considero estas pinturas como muito associadas ao Surrealismo, embora pintadas de forma expressionista. Nelas a ironia, a brincadeira e a farsa predominam, possibilitando as leituras mais variadas. Este é o contexto que procurei desde o início desta série e acredito ter encontrado em mior intensidade nestas pinturas. Mas vou me abster de fazer comentários individualizados sobre elas, para que o visitante possa fazer a suas próprias leituras sem ser induzido por mim.

Em 97 ainda pintei um grande painel tríptico e uma "Vênus" dentro destas características, mas eles foram feitos durante um concurso para professor de pintura da EBA/UFRJ; esta história vou contar na próxima postagem. Em 2000 retornei a esta série em cinco novas pinturas de grande formato, com algumas mudanças plásticas. Na hora certa também postarei estes trabalhos.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

1996 - Dando Continuidade...

Dando continuidade aos "Sonhos Tropicais" chegou a vez dos temas MITOLÓGICOS.


1 - "Leda e o Cisne" - óleo e pasta de cera s/mansonite - 90 X 70 cm - 1996.


2- "A Sereia" - óleo e pasta de cera s/mansonite - pequeno formato - 1996.


3- "O Julgamento de Paris" -óleo e pasta de cera s/mansonite - pequeno formato - 1996.


4- "Teseu e o Minotauro" - óleo e pasta de cera s/mansonite - pequeno formato - 1996.


5- "Adão e Eva"- óleo e pasta de cera s/mansonite - pequeno formato - 1996.


6- "A Vênus da Quitinete" - óleo e pasta de cera s/mansonite - pequeno formato - 1996.


7- "Estranho Velório" - óleo e pasta de cera s/mansonite - 70 X 100 cm - 1996.


A Mitologia Greco-Romana é um assunto que me interessa desde a adolescência e por isso tem aparecido como tema de alguns dos meus trabalhos desde aquela época.

Na versão "Sonhos Tropicais" ela ganhou uma feição mais gaiata, onde a minha intenção era mais a de ironizar do que ilustrar o mito mencionado.

Do grupo acima apenas "Adão e Eva" e "Estranho Velório" não fazem parte deste gênero de mitologia, sendo que esta última está dentro do chamado mito moderno dos OVNIs (outro assunto que me interessa muito).

Em "Leda e o Cisne" (quando Zeus transforma-se num cisne para possuir a ninfa Leda), a personagem feminina dança um "samba" muito agitado, tendo como primeiro plano uma natureza-morta (no mesmo nível de importância do tema central) e ao fundo uma janela que se abre para uma paisagem marinha ao por do sol. É tudo puro delírio e fantasia, onde o gesto brusco de Leda quebra o ar estático da cena.

Ulisses pediu para ser amarrado ao mastro de seu navio, enquanto seus marujos remavam com os ouvidos cheios de cera para não ouvir o famoso canto da "Sereia", que aqui é uma doce ruiva, que muito concentrada penteia seus longos cabelos cor de laranja, sentada sobre uma rocha, iluminada pela lua e cercada pelo mar. Ao fundo vêem-se os restos de barcos destruídos contra as rochas, vítimas do seu encantador e mortal canto.

Em o "Julgamento de Paris" vemos o mancebo de costas a escolher entre as 3 belas deusas qual vai ganhar o pomo de ouro. Escolha difícil... (a guerra de Tróia nasceu desde interessante episódio ligado à vaidade feminina).

Dentro do Labirinto uma cena de luta se desenrola entre "Teseu e o Minotauro". Este curioso quadro é um dos poucos que pintei abordando diretamente um cena de violência (mesmo que seja contra um monstro).

Os pais da humanidade, "Adão e Eva", estão num lindo idílio amoroso. Mas a serpente, atenta, já oferece a mortal maçã ao ingênuo casal. O final desta história todos já conhecemos.

Um ET jáz ao chão, cercado por figuras populares e por um anjo na pintura "Estranho Velório". O que simbolizará esta curiosa cena?

No próximo episódio postarei os grandes formatos.

1996 - Sonhos Tropicais - Continuando...

Agora chegou a vez dos "AMANTES" e dos "SOLITÁRIOS".


1- "A Banhista do Lado de Lá" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.


2- "Cena pastoral" -óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.


3- "A Mulata Cearense" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.


4- "Lulú" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.


5- "Marte no Sofá Vermelho" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.


6- "Entrando no Labirinto" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.


7- "O Eclipse" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.


8- "Melancolia de Verão" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.


9- "Atrás do Vaso Verde" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.


10- "O Bisbilhoteiro" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.


11- "Perdido na Zona Intermediária" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.


Este conjunto de pinturas aborda situações muito diferenciadas - cômicas, enigmáticas, românticas, surrealistas, estranhas...

"Perdido na Zona Intermediaria", por exemplo, nos mostra um solitário estático como uma escultura, mas cuja tensão interna é representada pela tempestade que estala para além da janela, prestes a sacudir o pequeno barco que flutua mansamente no enorme balde sobre a mesa coberta pela toalha florida. Enigmas da alma humana.

"Lulú" é uma boneca com cara de má, mas não passa de um brinquedo inofensivo esquecido a um canto do passado de alguém.

Uma figura muito estranha, vindo de muito longe (ou de muito perto), espreita da janela o sono profundo da bela loira. Quais serão as intenções deste um autêntico "Bisbilhoteiro"?

"A Banhista do lado de Lá" acena para a banhista do lado de cá, que doura suas curvas generosas ao sol tropical. Ela sonha...

A tarde cai e alguém está solitário à beira da praia. Sobre a mesa ficaram as lembranças de um romance perdido, o sonho que se foi deixando apenas uma "Melancolia de Verão".

O amor sob o "Eclipse" é mais gostoso. Uma ilusão que deixa sua marca para sempre em cores vivas no coração.

Ela está simplesmente "Penetrando no Labirinto". Porque? Porque viver é arricar-se sempre.

A "Mulata Cearense" faz pose, na mão segura um peixe e no coração acalenta um sonho...

E po aí vai...

1995/6 - Prosseguindo com os "Sonhos Tropicais"

Continuando a série "Sonhos Tropicais", seguem agora os "RECANTOS DA CASA".



1- "A Janela da Sala" - óleo e pasta de cera s/mansonite - 70 X 90 cm - 1996


2- "O Cantinho do Quarto" - óleo e pasta de cera s/mansonite - 70 X 90 cm - 1996.


3- "Cabeça com Mandacarú na Sala de Estar" - óleo e pasta de cera s/mansonite - 75 X 90 cm - 1996.


4- "Na Sala de Estar" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1995.


5- "No Caminho Para a Copa"- óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1995.


6- "A Varanda da Melancolia" - óleo e pasta de cera sobre mansonite - 60 X 80 cm - 1996.


7- "O Quarto de Brincar"- óleo e pasta de cera s/mansonite - 60 X 90 cm - 1996.

As situações surrealistas, mencionadas para as imagens da postagem anterior, ficam mais evidentes ainda nestas outras pinturas, contudo as características plásticas lá comentadas permanecem as mesmas aqui.

Vale ressaltar nos três primeiros trabalhos a menção à arte africana, através da presença das cabeças (ou máscaras) utilizadas como exóticos "bibelôs" na decoração dos ambientes, em associação com outros elementos estranhos, que contribuem para aumentar o "ar" de disparate de cada cena.

O peixe é outro elemento presente em algumas obras deste conjunto, assim como em várias da postagem anterior. Muito provavelmente existem algumas explicações de cunho psicológico para tal presença nestas e em outras pinturas minhas, mas nunca me preocupei muito com isto. Acredito que a causa principal seja porque gosto da forma do peixe, assim como gosto do mar e por isso busco sempre esta ligação.

Destaco também "A Varanda da Melancolia" com seu "jeitão" metafísico (o cachorro que dorme tranquilamente é o Atlas, um antigo animal da minha família, do qual eu gostava muito). "O Quarto de Brincar" pintei pensando na minha filha, que em 1996 tinha apenas dois anos de idade. Tentei criar uma imagem com elementos bem simples e comuns, mas capazes de simbolizar fortemente a infância.

Na próxima postagem apresentarei os "Amantes" e os "Solitários".

terça-feira, 17 de junho de 2008

1995 - Sonhos Tropicais - Imagens I

Seguem agora as primeiras imagens da série "Sonhos Tropicais", iniciada em 1995.

NATUREZAS MORTAS:



1 - Fruteira Branca - óleo e pasta de cera s/ mansonite - peq. formato - 1995.


2- A Hora da Ceia - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1995.


3- A Hora do Encantamento - óleo e pasta de cera s/ mansonite - peq. formato - 1995.


4- Cerâmicas - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1995.


5 - Composição I - óleo e pasta de cera s/mansonite - 60 X 90 cm - 1995.

6 - Composição II - óleo e pasta de cera s/mansonite - 60 X 90 cm - 1995.

7- Composição III - óleo e pasta de cera s/mansonite - 60 X 90 cm - 1995.

8 - Sob a Luz do Luar - óleo e pasta de cera s/ mansonite - peq. formato - 1995.

9-Frutas Vermelhas - óleo e pasta de cera s/mansonite - 90 X 60 cm - 1995.

10 - Peixe Azul -óleo e pastade cera s/mansonite - peq. formato - 1995.
11 - Silêncio - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1995.
12 -O Jantar Está Servido - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1995.
13 - Sob a Luz do Luar II - óleo e pasta de cera s/mansonite -peq. formato - 1995.
Estas são as primeiras naturezas-mortas que pintei dentro da série “Sonhos Tropicais". Há nelas, num primeiro olhar, certa simplicidade que as coloca muito próximas da arte popular, onde tudo é mostrado bem claramente, de maneira muito explícita, como em certas pinturas “naifs”.

O que inicialmente salta aos olhos é o seu intenso cromatismo (característica de quase toda a minha pintura em qualquer época), com fortes contrastes quente-frio (especialmente entre as complementares azul e laranja). Depois os contornos pesadamente marcados em preto, assim como as sombras muito escuras (também em preto), servem para deixar os objetos ainda mais evidenciados, como seres que requerem para si toda a nossa atenção. E além disso, cada área de cor ainda tem texturas aplicadas em tonalidades geralmente mais claras, tornando a superfície pictórica mais vibrante. O resultado é uma "festa para os olhos".

Contudo, passado o primeiro impacto, estes trabalhos demonstram que possuem também uma outra possibilidade de leitura, de fundo mais sutil, que nasce da associação de elementos estranhos entre si na criação de algumas destas composições, por exemplo: a forma de cabeça de boi (com os chifres) da “Fruteira Branca”; o olhar sério da cabeça africana, que nos observa a partir da mesa, em associação com o peixe azul entrevisto no chão e o relógio antigo ao fundo de “A Hora do Encantamento”; a reunião bastante arbitrária de objetos como o dinossauro de cerâmica, a lata de cerveja, o “I Ching”, o boi colorido do “boi-bumbá” e as esculturas em forma peixe, elementos vistos nas "Composições" I,II e III. Esta associação de objetos curiosos, além da forma exagerada como foram pintados, de caráter expressionista, geram uma sensação de estranheza que faz com estas pinturas saiam do contexto tradicional do gênero “natureza-morta” para um outro bem mais interessante, originando uma ligação com um mundo sensual, tropical e cheio de situações absurdas típicas do Surrealismo.

A partir daí já se começa a perceber que a “simplicidade” inicial era apenas uma primeira impressão, apressada, e que estas pinturas, escondem seus segredos e sutilezas, apesar de tão “escrachadas” ao nosso olhar.

Mais uma prova disso, voltando às considerações plásticas do segundo parágrafo, é o paradoxo que surge a nossa compreensão visual a respeito do “volume” e do “plano” dentro destas composições. Isto acontece porque o exagerado claro-escuro que modela as formas, dando-lhes aparência de possuírem bastante volume e peso é contrariado pela saturação das cores, particularmente dos laranjas, vermelhos e amarelos, que saltam fortemente à frente, dando uma sensação de “planaridade” às áreas sobre as quais foram aplicados. Somado a isto, existe uma perspectiva "torta", criando um espaço propositalmente distorcido em que foram inseridos os objetos, trazendo-nos a idéia de acúmulo, de muita coisa em pouco espaço. Estas características, associadas ao cromatismo forte, estão presentes também em muito do que se faz nas artes gráficas para a ilustração de quadrinhos e, mais uma vez, na arte popular (grafites murais, cartazes promocionais etc.).

Vou ficando por aqui. Muitas outras considerações podem ser feitas sobre estas pinturas e as demais desta série, mas por enquanto deixo que o visitante tire suas próprias conclusões.

Na próxima postagem desta série trarei as pinturas cuja temática são "os recantos da casa".

quinta-feira, 12 de junho de 2008

1995 - "O Nascimento de Vênus" e "Sonhos Tropicais"



O ano de 1995 foi um ano especial para mim, pois foi quando pela primeira vez lecionei como professor substituto na EBA/UFRJ, nas disciplinas Teoria da Pintura, Pintura V (1º semestre) e Pintura I (2º semestre). Trabalhar como professor foi (é) para mim uma experiência muito boa, que me permite aprender enquanto ensino, já que cada aluno é um universo único e como professor tenho que me preparar para conseguir atender a todas as expectativas sobre mim lançadas – especialmente num curso universitário de arte.

Mas 1995 também foi o ano em que comecei a série de pinturas intitulada de “Sonhos Tropicais”, que sob muitos aspectos representou uma mudança de rumo em meu trabalho e um grande aprimoramento do mesmo, quando tive a oportunidade de perceber muitas coisas que antes não havia percebido em minha linguagem plástica, além de aprender na prática algumas coisas muito importantes para melhora-la. O ponto de partida desta série foi um livro sobre o pintor expressionista alemão Max Beckmann, que me foi presenteado pela minha primeira turma da EBA. Este pintor pertenceu à escola expressionista alemã da década de 30 do século passado, conhecida como “Nova Objetividade”, que buscava denunciar de forma muito contundente as mazelas da sociedade germânica daquela época, oriunda da 1ª Grande Guerra e a caminho da 2ª. Assuntos como miséria, prostituição, cabarés, autoritarismo e coisas do gênero estavam presentes não só na obra de Max Beckmann, mas também na Georg Groz e outros expressionistas daquele tenso período.

Contudo, o que me chamou a atenção na obra deste pintor não foram os seus temas, mas sim a maneira como eles os tratava, através de um desenho muito marcado, deformações expressivas em suas figuras, cores bastante contrastantes (especialmente em sua fase mais madura) e um jogo de luz e sombra muito intenso, tudo isso para construir composições extremamente dinâmicas, ousadas e, às vezes, muito cômicas. Na obra deste artista pude encontrar o que me faltava para melhor construir a minha própria linguagem, que já trazia em si elementos semelhantes aos dele como o grafismo explícito derivado da minha xilogravura e o uso de um cromatismo forte. Restava-me compreender mais claramente como seria possível trabalhar com estes elementos para criar composições mais dinâmicas, além de incorporar um claro-escuro mais denso, que desse mais peso as minhas figuras. Estudando a pintura de Max Beckmann, pude enxergar como fazer tudo isso de um jeito que tivesse relação comigo.

Mas havia ainda a questão do que pintar, que temas abordar através deste novo (para mim) procedimento plástico, já que não me interessava falar das misérias humanas em meu trabalho. Encontrei a resposta em dois caminhos diferentes, o primeiro deles passava por um gênero muito tradicional da pintura, o das composições de natureza-morta, também abordados pelo próprio Beckmann, mas criadas de uma forma bastante fantasiosa e não convencional. O segundo caminho, mais instigante, era o da improvisação, que de certa forma tem relação com um dos processos utilizados pelos surrealistas que, no meu caso, consistia em pegar lápis e papel e sair desenhando figuras e formas livremente, sem intenção temática ou de composição definida, realizando uma espécie de “desenho cego”. Depois, ao final de muitos desenhos, eu escolhia neles os elementos que mais me agradassem e os juntava numa única composição, buscando então uma lógica que lhes desse algum sentido, ainda que vago. O resultado foram composições cuja interpretação é muito aberta, criadas numa situação de muita cor e movimento, onde o desenho e o claro-escuro são bastante marcantes.

Curiosamente as situações surgidas em cada pintura (além das cores muito vivas) me pareceram muito ligadas ao nosso contexto cultural, de país tropical e muito sincretismo em tudo, daí me veio a idéia de intitular toda a série de “Sonhos Tropicais”. Esta experiência durou dois anos, mas foi retomada em 2000, com algumas características diferentes (no intervalo passei por dois momentos rápidos de abstração, que serão comentados no tempo devido).

IIº

Contudo, antes de começar a ilustrar este assunto com trabalhos da série, vou falar rapidamente de um evento muito interessante em que estive envolvido em 95, enquanto dava aula pela primeira vez na EBA. Naquela ocasião estava em andamento um projeto intitulado “EBA PINTA O FUNDÃO” ( “Fundão” é o nome da ilha onde se localiza um dos campi da UFRJ), dirigido pelo professor Aurélio Neri, também do curso de Pintura. O tal projeto tinha como objetivo a criação de grandes painéis, por parte de alunos e professores convidados, a serem distribuídos por várias faculdades dentro da Cidade Universitária. Ao receber um convite para realizar um destes painéis, aceitei com um entusiasmo muito grande.

Sendo assim, parti de uma pintura, mostrada na postagem anterior, onde uma enorme mulher azul flutua horizontalmente, para criar a minha primeira versão do clássico tema “O Nascimento de Vênus” sobre um suporte de compensado medindo 220 X 170 cm, que atualmente encontra-se exposto no corredor do 6º andar da EBA (mas seu lugar original era a parede externa do Museu D. João VI, na Reitoria, de onde foi retirado por motivo de obras no local). Nesta enorme pintura, que homenageia o grande gravador e ex-professor da EBA Oswaldo Goeldi, uma Vênus imensamente gorda flutua sobre o mar, observada por uma enigmática figura a sua direita. A técnica pictórica utilizada foi o óleo e a pasta de cera, que naquela ocasião eu chamava de “falsa encáustica” (ou “pseudo-encáustica”).

Segue, então, “O Nascimento de Vênus (A Mulher Ideal)":


1 - "O Nascimento de Vênus (A Mulher Ideal)" - óleo e pasta de cera sobre compensado - 220 X 170 cm - 1995.


2 - Eu diante de minha Vênus.


3 - Detalhe - Cabeça da Vênus.


3 - Detalhe para observação da textura desta pintura.