Dando continuidade aos "Sonhos Tropicais" chegou a vez dos temas MITOLÓGICOS.
1 - "Leda e o Cisne" - óleo e pasta de cera s/mansonite - 90 X 70 cm - 1996.
2- "A Sereia" - óleo e pasta de cera s/mansonite - pequeno formato - 1996.
3- "O Julgamento de Paris" -óleo e pasta de cera s/mansonite - pequeno formato - 1996.
4- "Teseu e o Minotauro" - óleo e pasta de cera s/mansonite - pequeno formato - 1996.
5- "Adão e Eva"- óleo e pasta de cera s/mansonite - pequeno formato - 1996.
6- "A Vênus da Quitinete" - óleo e pasta de cera s/mansonite - pequeno formato - 1996.
7- "Estranho Velório" - óleo e pasta de cera s/mansonite - 70 X 100 cm - 1996.
A Mitologia Greco-Romana é um assunto que me interessa desde a adolescência e por isso tem aparecido como tema de alguns dos meus trabalhos desde aquela época.
Na versão "Sonhos Tropicais" ela ganhou uma feição mais gaiata, onde a minha intenção era mais a de ironizar do que ilustrar o mito mencionado.
Do grupo acima apenas "Adão e Eva" e "Estranho Velório" não fazem parte deste gênero de mitologia, sendo que esta última está dentro do chamado mito moderno dos OVNIs (outro assunto que me interessa muito).
Em "Leda e o Cisne" (quando Zeus transforma-se num cisne para possuir a ninfa Leda), a personagem feminina dança um "samba" muito agitado, tendo como primeiro plano uma natureza-morta (no mesmo nível de importância do tema central) e ao fundo uma janela que se abre para uma paisagem marinha ao por do sol. É tudo puro delírio e fantasia, onde o gesto brusco de Leda quebra o ar estático da cena.
Ulisses pediu para ser amarrado ao mastro de seu navio, enquanto seus marujos remavam com os ouvidos cheios de cera para não ouvir o famoso canto da "Sereia", que aqui é uma doce ruiva, que muito concentrada penteia seus longos cabelos cor de laranja, sentada sobre uma rocha, iluminada pela lua e cercada pelo mar. Ao fundo vêem-se os restos de barcos destruídos contra as rochas, vítimas do seu encantador e mortal canto.
Em o "Julgamento de Paris" vemos o mancebo de costas a escolher entre as 3 belas deusas qual vai ganhar o pomo de ouro. Escolha difícil... (a guerra de Tróia nasceu desde interessante episódio ligado à vaidade feminina).
Dentro do Labirinto uma cena de luta se desenrola entre "Teseu e o Minotauro". Este curioso quadro é um dos poucos que pintei abordando diretamente um cena de violência (mesmo que seja contra um monstro).
Os pais da humanidade, "Adão e Eva", estão num lindo idílio amoroso. Mas a serpente, atenta, já oferece a mortal maçã ao ingênuo casal. O final desta história todos já conhecemos.
Um ET jáz ao chão, cercado por figuras populares e por um anjo na pintura "Estranho Velório". O que simbolizará esta curiosa cena?
No próximo episódio postarei os grandes formatos.
quinta-feira, 19 de junho de 2008
1996 - Sonhos Tropicais - Continuando...
Agora chegou a vez dos "AMANTES" e dos "SOLITÁRIOS".
1- "A Banhista do Lado de Lá" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.
2- "Cena pastoral" -óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.
3- "A Mulata Cearense" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.
4- "Lulú" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.
5- "Marte no Sofá Vermelho" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.
6- "Entrando no Labirinto" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.
7- "O Eclipse" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.
8- "Melancolia de Verão" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.
9- "Atrás do Vaso Verde" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.
10- "O Bisbilhoteiro" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.
11- "Perdido na Zona Intermediária" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.
Este conjunto de pinturas aborda situações muito diferenciadas - cômicas, enigmáticas, românticas, surrealistas, estranhas...
"Perdido na Zona Intermediaria", por exemplo, nos mostra um solitário estático como uma escultura, mas cuja tensão interna é representada pela tempestade que estala para além da janela, prestes a sacudir o pequeno barco que flutua mansamente no enorme balde sobre a mesa coberta pela toalha florida. Enigmas da alma humana.
"Lulú" é uma boneca com cara de má, mas não passa de um brinquedo inofensivo esquecido a um canto do passado de alguém.
Uma figura muito estranha, vindo de muito longe (ou de muito perto), espreita da janela o sono profundo da bela loira. Quais serão as intenções deste um autêntico "Bisbilhoteiro"?
"A Banhista do lado de Lá" acena para a banhista do lado de cá, que doura suas curvas generosas ao sol tropical. Ela sonha...
A tarde cai e alguém está solitário à beira da praia. Sobre a mesa ficaram as lembranças de um romance perdido, o sonho que se foi deixando apenas uma "Melancolia de Verão".
O amor sob o "Eclipse" é mais gostoso. Uma ilusão que deixa sua marca para sempre em cores vivas no coração.
Ela está simplesmente "Penetrando no Labirinto". Porque? Porque viver é arricar-se sempre.
A "Mulata Cearense" faz pose, na mão segura um peixe e no coração acalenta um sonho...
E po aí vai...
1- "A Banhista do Lado de Lá" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.
2- "Cena pastoral" -óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.
3- "A Mulata Cearense" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.
4- "Lulú" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.
5- "Marte no Sofá Vermelho" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.
6- "Entrando no Labirinto" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.
7- "O Eclipse" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.
8- "Melancolia de Verão" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.
9- "Atrás do Vaso Verde" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.
10- "O Bisbilhoteiro" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.
11- "Perdido na Zona Intermediária" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1996.
Este conjunto de pinturas aborda situações muito diferenciadas - cômicas, enigmáticas, românticas, surrealistas, estranhas...
"Perdido na Zona Intermediaria", por exemplo, nos mostra um solitário estático como uma escultura, mas cuja tensão interna é representada pela tempestade que estala para além da janela, prestes a sacudir o pequeno barco que flutua mansamente no enorme balde sobre a mesa coberta pela toalha florida. Enigmas da alma humana.
"Lulú" é uma boneca com cara de má, mas não passa de um brinquedo inofensivo esquecido a um canto do passado de alguém.
Uma figura muito estranha, vindo de muito longe (ou de muito perto), espreita da janela o sono profundo da bela loira. Quais serão as intenções deste um autêntico "Bisbilhoteiro"?
"A Banhista do lado de Lá" acena para a banhista do lado de cá, que doura suas curvas generosas ao sol tropical. Ela sonha...
A tarde cai e alguém está solitário à beira da praia. Sobre a mesa ficaram as lembranças de um romance perdido, o sonho que se foi deixando apenas uma "Melancolia de Verão".
O amor sob o "Eclipse" é mais gostoso. Uma ilusão que deixa sua marca para sempre em cores vivas no coração.
Ela está simplesmente "Penetrando no Labirinto". Porque? Porque viver é arricar-se sempre.
A "Mulata Cearense" faz pose, na mão segura um peixe e no coração acalenta um sonho...
E po aí vai...
1995/6 - Prosseguindo com os "Sonhos Tropicais"
Continuando a série "Sonhos Tropicais", seguem agora os "RECANTOS DA CASA".
1- "A Janela da Sala" - óleo e pasta de cera s/mansonite - 70 X 90 cm - 1996
2- "O Cantinho do Quarto" - óleo e pasta de cera s/mansonite - 70 X 90 cm - 1996.
3- "Cabeça com Mandacarú na Sala de Estar" - óleo e pasta de cera s/mansonite - 75 X 90 cm - 1996.
4- "Na Sala de Estar" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1995.
5- "No Caminho Para a Copa"- óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1995.
6- "A Varanda da Melancolia" - óleo e pasta de cera sobre mansonite - 60 X 80 cm - 1996.
7- "O Quarto de Brincar"- óleo e pasta de cera s/mansonite - 60 X 90 cm - 1996.
As situações surrealistas, mencionadas para as imagens da postagem anterior, ficam mais evidentes ainda nestas outras pinturas, contudo as características plásticas lá comentadas permanecem as mesmas aqui.
Vale ressaltar nos três primeiros trabalhos a menção à arte africana, através da presença das cabeças (ou máscaras) utilizadas como exóticos "bibelôs" na decoração dos ambientes, em associação com outros elementos estranhos, que contribuem para aumentar o "ar" de disparate de cada cena.
O peixe é outro elemento presente em algumas obras deste conjunto, assim como em várias da postagem anterior. Muito provavelmente existem algumas explicações de cunho psicológico para tal presença nestas e em outras pinturas minhas, mas nunca me preocupei muito com isto. Acredito que a causa principal seja porque gosto da forma do peixe, assim como gosto do mar e por isso busco sempre esta ligação.
Destaco também "A Varanda da Melancolia" com seu "jeitão" metafísico (o cachorro que dorme tranquilamente é o Atlas, um antigo animal da minha família, do qual eu gostava muito). "O Quarto de Brincar" pintei pensando na minha filha, que em 1996 tinha apenas dois anos de idade. Tentei criar uma imagem com elementos bem simples e comuns, mas capazes de simbolizar fortemente a infância.
Na próxima postagem apresentarei os "Amantes" e os "Solitários".
1- "A Janela da Sala" - óleo e pasta de cera s/mansonite - 70 X 90 cm - 1996
2- "O Cantinho do Quarto" - óleo e pasta de cera s/mansonite - 70 X 90 cm - 1996.
3- "Cabeça com Mandacarú na Sala de Estar" - óleo e pasta de cera s/mansonite - 75 X 90 cm - 1996.
4- "Na Sala de Estar" - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1995.
5- "No Caminho Para a Copa"- óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1995.
6- "A Varanda da Melancolia" - óleo e pasta de cera sobre mansonite - 60 X 80 cm - 1996.
7- "O Quarto de Brincar"- óleo e pasta de cera s/mansonite - 60 X 90 cm - 1996.
As situações surrealistas, mencionadas para as imagens da postagem anterior, ficam mais evidentes ainda nestas outras pinturas, contudo as características plásticas lá comentadas permanecem as mesmas aqui.
Vale ressaltar nos três primeiros trabalhos a menção à arte africana, através da presença das cabeças (ou máscaras) utilizadas como exóticos "bibelôs" na decoração dos ambientes, em associação com outros elementos estranhos, que contribuem para aumentar o "ar" de disparate de cada cena.
O peixe é outro elemento presente em algumas obras deste conjunto, assim como em várias da postagem anterior. Muito provavelmente existem algumas explicações de cunho psicológico para tal presença nestas e em outras pinturas minhas, mas nunca me preocupei muito com isto. Acredito que a causa principal seja porque gosto da forma do peixe, assim como gosto do mar e por isso busco sempre esta ligação.
Destaco também "A Varanda da Melancolia" com seu "jeitão" metafísico (o cachorro que dorme tranquilamente é o Atlas, um antigo animal da minha família, do qual eu gostava muito). "O Quarto de Brincar" pintei pensando na minha filha, que em 1996 tinha apenas dois anos de idade. Tentei criar uma imagem com elementos bem simples e comuns, mas capazes de simbolizar fortemente a infância.
Na próxima postagem apresentarei os "Amantes" e os "Solitários".
terça-feira, 17 de junho de 2008
1995 - Sonhos Tropicais - Imagens I
Seguem agora as primeiras imagens da série "Sonhos Tropicais", iniciada em 1995.
NATUREZAS MORTAS:
1 - Fruteira Branca - óleo e pasta de cera s/ mansonite - peq. formato - 1995.
2- A Hora da Ceia - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1995.
3- A Hora do Encantamento - óleo e pasta de cera s/ mansonite - peq. formato - 1995.
4- Cerâmicas - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1995.
5 - Composição I - óleo e pasta de cera s/mansonite - 60 X 90 cm - 1995.
Na próxima postagem desta série trarei as pinturas cuja temática são "os recantos da casa".
NATUREZAS MORTAS:
1 - Fruteira Branca - óleo e pasta de cera s/ mansonite - peq. formato - 1995.
2- A Hora da Ceia - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1995.
3- A Hora do Encantamento - óleo e pasta de cera s/ mansonite - peq. formato - 1995.
4- Cerâmicas - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1995.
5 - Composição I - óleo e pasta de cera s/mansonite - 60 X 90 cm - 1995.
6 - Composição II - óleo e pasta de cera s/mansonite - 60 X 90 cm - 1995.
7- Composição III - óleo e pasta de cera s/mansonite - 60 X 90 cm - 1995.
8 - Sob a Luz do Luar - óleo e pasta de cera s/ mansonite - peq. formato - 1995.
9-Frutas Vermelhas - óleo e pasta de cera s/mansonite - 90 X 60 cm - 1995.
10 - Peixe Azul -óleo e pastade cera s/mansonite - peq. formato - 1995.
11 - Silêncio - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1995.
12 -O Jantar Está Servido - óleo e pasta de cera s/mansonite - peq. formato - 1995.
13 - Sob a Luz do Luar II - óleo e pasta de cera s/mansonite -peq. formato - 1995.
Estas são as primeiras naturezas-mortas que pintei dentro da série “Sonhos Tropicais". Há nelas, num primeiro olhar, certa simplicidade que as coloca muito próximas da arte popular, onde tudo é mostrado bem claramente, de maneira muito explícita, como em certas pinturas “naifs”.
O que inicialmente salta aos olhos é o seu intenso cromatismo (característica de quase toda a minha pintura em qualquer época), com fortes contrastes quente-frio (especialmente entre as complementares azul e laranja). Depois os contornos pesadamente marcados em preto, assim como as sombras muito escuras (também em preto), servem para deixar os objetos ainda mais evidenciados, como seres que requerem para si toda a nossa atenção. E além disso, cada área de cor ainda tem texturas aplicadas em tonalidades geralmente mais claras, tornando a superfície pictórica mais vibrante. O resultado é uma "festa para os olhos".
Contudo, passado o primeiro impacto, estes trabalhos demonstram que possuem também uma outra possibilidade de leitura, de fundo mais sutil, que nasce da associação de elementos estranhos entre si na criação de algumas destas composições, por exemplo: a forma de cabeça de boi (com os chifres) da “Fruteira Branca”; o olhar sério da cabeça africana, que nos observa a partir da mesa, em associação com o peixe azul entrevisto no chão e o relógio antigo ao fundo de “A Hora do Encantamento”; a reunião bastante arbitrária de objetos como o dinossauro de cerâmica, a lata de cerveja, o “I Ching”, o boi colorido do “boi-bumbá” e as esculturas em forma peixe, elementos vistos nas "Composições" I,II e III. Esta associação de objetos curiosos, além da forma exagerada como foram pintados, de caráter expressionista, geram uma sensação de estranheza que faz com estas pinturas saiam do contexto tradicional do gênero “natureza-morta” para um outro bem mais interessante, originando uma ligação com um mundo sensual, tropical e cheio de situações absurdas típicas do Surrealismo.
A partir daí já se começa a perceber que a “simplicidade” inicial era apenas uma primeira impressão, apressada, e que estas pinturas, escondem seus segredos e sutilezas, apesar de tão “escrachadas” ao nosso olhar.
Mais uma prova disso, voltando às considerações plásticas do segundo parágrafo, é o paradoxo que surge a nossa compreensão visual a respeito do “volume” e do “plano” dentro destas composições. Isto acontece porque o exagerado claro-escuro que modela as formas, dando-lhes aparência de possuírem bastante volume e peso é contrariado pela saturação das cores, particularmente dos laranjas, vermelhos e amarelos, que saltam fortemente à frente, dando uma sensação de “planaridade” às áreas sobre as quais foram aplicados. Somado a isto, existe uma perspectiva "torta", criando um espaço propositalmente distorcido em que foram inseridos os objetos, trazendo-nos a idéia de acúmulo, de muita coisa em pouco espaço. Estas características, associadas ao cromatismo forte, estão presentes também em muito do que se faz nas artes gráficas para a ilustração de quadrinhos e, mais uma vez, na arte popular (grafites murais, cartazes promocionais etc.).
Vou ficando por aqui. Muitas outras considerações podem ser feitas sobre estas pinturas e as demais desta série, mas por enquanto deixo que o visitante tire suas próprias conclusões.
O que inicialmente salta aos olhos é o seu intenso cromatismo (característica de quase toda a minha pintura em qualquer época), com fortes contrastes quente-frio (especialmente entre as complementares azul e laranja). Depois os contornos pesadamente marcados em preto, assim como as sombras muito escuras (também em preto), servem para deixar os objetos ainda mais evidenciados, como seres que requerem para si toda a nossa atenção. E além disso, cada área de cor ainda tem texturas aplicadas em tonalidades geralmente mais claras, tornando a superfície pictórica mais vibrante. O resultado é uma "festa para os olhos".
Contudo, passado o primeiro impacto, estes trabalhos demonstram que possuem também uma outra possibilidade de leitura, de fundo mais sutil, que nasce da associação de elementos estranhos entre si na criação de algumas destas composições, por exemplo: a forma de cabeça de boi (com os chifres) da “Fruteira Branca”; o olhar sério da cabeça africana, que nos observa a partir da mesa, em associação com o peixe azul entrevisto no chão e o relógio antigo ao fundo de “A Hora do Encantamento”; a reunião bastante arbitrária de objetos como o dinossauro de cerâmica, a lata de cerveja, o “I Ching”, o boi colorido do “boi-bumbá” e as esculturas em forma peixe, elementos vistos nas "Composições" I,II e III. Esta associação de objetos curiosos, além da forma exagerada como foram pintados, de caráter expressionista, geram uma sensação de estranheza que faz com estas pinturas saiam do contexto tradicional do gênero “natureza-morta” para um outro bem mais interessante, originando uma ligação com um mundo sensual, tropical e cheio de situações absurdas típicas do Surrealismo.
A partir daí já se começa a perceber que a “simplicidade” inicial era apenas uma primeira impressão, apressada, e que estas pinturas, escondem seus segredos e sutilezas, apesar de tão “escrachadas” ao nosso olhar.
Mais uma prova disso, voltando às considerações plásticas do segundo parágrafo, é o paradoxo que surge a nossa compreensão visual a respeito do “volume” e do “plano” dentro destas composições. Isto acontece porque o exagerado claro-escuro que modela as formas, dando-lhes aparência de possuírem bastante volume e peso é contrariado pela saturação das cores, particularmente dos laranjas, vermelhos e amarelos, que saltam fortemente à frente, dando uma sensação de “planaridade” às áreas sobre as quais foram aplicados. Somado a isto, existe uma perspectiva "torta", criando um espaço propositalmente distorcido em que foram inseridos os objetos, trazendo-nos a idéia de acúmulo, de muita coisa em pouco espaço. Estas características, associadas ao cromatismo forte, estão presentes também em muito do que se faz nas artes gráficas para a ilustração de quadrinhos e, mais uma vez, na arte popular (grafites murais, cartazes promocionais etc.).
Vou ficando por aqui. Muitas outras considerações podem ser feitas sobre estas pinturas e as demais desta série, mas por enquanto deixo que o visitante tire suas próprias conclusões.
Na próxima postagem desta série trarei as pinturas cuja temática são "os recantos da casa".
Assinar:
Postagens (Atom)