Continuando o assunto da postagem anterior, seguem mais algumas imagens para exemplificar a minha pintura juvenil, feita aproximadamente entre 76 e 84. Meus temas prediletos desta ocasião, conforme expliquei anteriormente, e como fica óbvio nestas novas imagens, são as viagens espaciais, os mundos distantes, os UFOS e as passagens para universos paralelos.
Olhando agora para estas pinturas, percebo nelas, para além de sua natural ingenuidade (que muito me comove), o quanto eu era (e ainda sou) atraído para temas de ordem transcedente, filosófico-espirituais. Pois no fundo, por trás destas naves que decolam, destes castelos de nuvens, destes céus estrelados, está uma ânsia por respostas às velhas perguntas sobre nossas origens e destinos. Para mim, que na ocasião era apenas um garoto, um pouco introspectivo e tímido, era de crucial importância chegar "lá" ou pelo menos tentar visualizar este inefável destino.
E o meu caminho passava inevitavelmente pela arte, principalmente a arte da pintura, embora também gostasse de escrever poemas e contos de fantasia e FC. Mas era através do desenho e das cores que eu me sentia verdadeiramente realizado, pois a imagem sintetiza num instante uma idéia, além de conseguir induzir muitas outras àqueles que têm imaginação livre.
Sem falsa modéstia, outra coisa que hoje me salta aos olhos nestas pinturas, agora falando dos seus aspectos plásticos, era o quanto meu senso de proporção era já desenvolvido. Eu realmente já sabia organizar formas, cores e espaços sobre a superfície da tela sem nunca ter tido qualquer ensino formal sobre o tema (isso antes de 1981). Credito tudo isso a minha intuição, que sempre foi muito forte, principalmente quando estou criando.
Por outro lado, é muito interessante notar como as cores aos poucos foram se tornando mais presentes em meus trabalhos, especialmente naqueles que fiz após ter assistido "Contatos Imediatos" e "Guerras nas Estrelas"- aqueles ufos de cores feéricas e aquelas batalhas multicoloridas realmente me marcaram, servindo-me como modelo para criação de algumas das minhas mais coloridas obras desta fase. Da mesma forma a leitura de livros como "2001 - Uma Odisséia no Espaço" (Arthur C. Clark), "Fundação" (Isaac Asimov), "Crônicas Marcianas" (Ray Bradbury) e outras obras do gênero também me "fizeram a cabeça", lançando-me em grandes sonhos sobre o futuro da humanidade. A isto somava-se também o meu gosto (ainda presente) pela música do tipo "Rock Progressivo" feita por grupos como Yes, Pink Floyd, Gênesis, Kraftwerk, Tangerine Dream ou por Rick Wakeman. Tudo isto me inspirava, soltava minha imaginação e eu "viajava" através do espaço, rumo ao desconhecido, "a fronteira final" ("Jornada nas Estrelas" e "Perdidos no Espaço" são outras referências impotantes para mim).
Mas provavelmente alguém dirá: "este cara era um alienado que vivia no mundo da Lua". A isto respondo: sim, era mesmo. Vejo isto hoje com muita clareza, principalmente o quanto me distanciei das questões de ordem prática, do dia-a-dia, dos relacionamentos sociais, pessoais e gerais. Realmente eu vivia isolado num mundo de pura fantasia. Mas uma das coisas que tenho aprendido é que há um tempo para tudo e que não há como fugir daquilo que você é interiormente. Eu nasci para ser um artista, e ser sonhador é o requisito número um para quem quer prosseguir nesta empreitada. Por isso não me arrependo das horas gastas no terraço do consultório do meu pai, estudando as nuvens e o pôr do sol, ouvindo sonoridades inspiradoras tiradas das guitarras e sintetizadores do rock progressivo, lendo FC ou, principalmente, pintando meus fantasiosos e ingênuos quadros sobre mundos distantes. Portanto, no que pese toda a minha alienação daquela época (que, diga-se de passagem, não era uma característica só minha) aprendi e cresci muito ao seguir minhas inclinações naturais para a arte e para a fantasia.
Hoje estou "com um pé no chão", minhas pinturas e demais trabalhos seguem outros rumos, mas nunca deixarão de refletir estas experiências iniciais e minha vontade de trilhar caminhos desconhecidos. Afinal de contas, o artista tem que ser um desbravador, permitindo que sua imaginação sempre vá adiante em busca de novos mundos.
Lista dos trabalhos postados nesta postagem:
1- Anjos Destruidores - óleo s/ mansonite, 48 x 48 cm - 1977.
2- Saltando Para o Infinito - óleo s/mansonite, 40 x 60 cm - 1977.
3- Mundos Sobrepostos - óleo s/ mansonite , 50 x 70 cm - 1977.
4- A Montanha e os Ufos - óleo s/mansonite , 50 x 60 cm - 1977.