terça-feira, 11 de novembro de 2008

Miscelânea - Parte 2

Continuando a postagem anterior:

O MUNDO INFANTIL

O estilo destes dois trabalhos deriva diretamente do desenho infantil, que eu já vinha explorando há bastante tempo, particularmente em minhas xilogravuras e em algumas pinturas anteriores a 1985 (ver histórico do blog). A primeira é uma interpretação de um tema bíblico, explorado por muitos artistas antes de mim através dos tempos. A minha versão tem um jeito de brincadeira, embora o tema seja (para muitos) sério.

"Fetiches" já trata de um assunto mais solto, não muito específico, cuja interpretação varia muito de acordo com a fantasia de quem o vê. Esta pintura basea-se livremente numa xilogravura minha mais ou menos da mesma época (1986/7).


"A Expulsão de Adão e Eva do Paraíso" - óleo s/ mansonite - médio formato - 1987.

"Fetiches" - óleo s/ mansonite - médio formato - 1987.

FANTASIAS

Estas pinturas têm relação estilística com as que estão acima, contudo são mais coloridas e mais ricas em associações de idéias. A primeira delas, "Atlas", é uma das muitas homenagens que tenho feito aos meus cães de estimação. As demais, cada uma a seu modo, permitem leituras muito diversificadas que deixarei por conta de vocês, apreciadores do meu trabalho. O curioso é que por causa destes quadros, fui considerado como pintor "naïf", mas depois desconsiderado como tal pelos curadores de um determinado museu dedicado a este gênero de pintura no RJ que, a princípio, haviam pensado em recebe-los (em doação) para a sua coleção.

Na época (1989) eu teria feito a tal doação para este museu se eles os tivessem aprovado como primitivos, mas hoje não a faria. Embora não tenha nada contra a arte naïf (muito pelo contrário), de forma nenhuma, apesar dos meus "primitivismos", sou um um artista naïf.


"Atlas" - óleo s/mansonite - médio formato - 1989.
"No Coração da Ilha" - óleo s/mansonite - médio formato - 1989.
" O Vôo Noturno do Avião Presidencial ( O Avião do Lula)" - óleo s/mansonite - 1989.
"Composição tropical" - óleo s/mansonite - médio formato - 1989.

EXPERIÊNCIAS AVULSAS

Em minhas pesquisas plásticas a intuição era (e´) umas das minhas principais ferramentas. Por isso as idéias vão surgindo e tomando forma naturalmente. É claro que estes trabalhos nasceram de idéias anteriores, tanto temáticas quanto plásticas, mas naquele momento não foi uma coisa muito pensada.

A "Cabeça de Negro" deriva diretamente das influências da arte africana em meu trabalho e, plasticamente, das minhas xilogravuras com seus contornos negros e pesados. Já sua textura e formato talvez tenha alguma relação com a cerâmica que eu já desenvolvia na época (ver http://rpceramica-arte.blogspot/). Sobre esta pintura disse, zombeteiramente, um muito conhecido ator de TV, comediante e escritor de teatro, quando de uma visita a minha casa (em 1989, em S. Cristovão/ RJ, para se encontrar com um amigo comum que estava me visitando): "parece a 'Escrava Anastácia!'"

O "Gato Vermelho" simplesmente "surgiu" e não tem maiores explicações. Gosto muito mais de cães, mas não desgosto deste "bichano", principalmente dos maneirismos gráficos que ele ostenta.
"Pássaros" é uma pintura muito singela e poética. Inspirei-me um pouco nas pinturas etruscas da fase mais primitiva para realiza-la. Inclusive para a solução de cor, que é bastante "pastel" quando comparada com as cores da maioria das minhas obras.

"Cabeça de Negro" - óleo e pasta de cera s/mansonite - 90 X 90 cm - 1990.


"Gato Vermelho" - óleo e pasta de cera s/mansonite - 80 X 90 cm - 1990.

"Pássaros" - óleo e pasta de cera s/ mansonite - 60 X 90 cm - 1990.

COLAGEM

Esta pintura faz parte de um grupo já postado aqui, ao qual chamei de "Relíquias" (ver histórico do blog). A idéia era fazer "recortes" em períodos diversos da História da Arte e de outras referências fora das artes e "cola-los" numa mesma obra, juntamente com imagens minhas as mais variadas, buscando uma harmonização plástica, mas não uma lógica temática e visual clara (queria causar mesmo uma certa estranheza com as associações disparatadas, dentro de um contexto algo surrealista). O resultado, às vezes, ficava bastante cômico. Nunca expus esta série de pinturas, o que é uma pena.


"Tupã" - óleo e pasta de cera s/ compensado - 90 X 120 cm - 1991.

SONHOS TROPICAIS

Mais uma vez o tema dos fetiches, aqui na versão do meu estilo mais "pesado", plasticamente falando, o da série "Sonhos Tropicais" (ver histórico do blog). Gosto muito desta pintura.


"Fetiches (Sonhos Tropicais)" - óleo e pasta de cera s/ mansonite - 45 X 90 cm - 1997.

RETORNO À ABSTRAÇÃO

Esta obra faz parte do conjunto de pinturas abstratas realizadas em 1999 (ver histórico do blog). Considero-a um pouco confusa, mas vale como registro da experiência.


"Abstração IV" - guache, óleo e pasta de cera s/ mansonite - 60 X 90 cm - 1999.
SÉRIE PBH
Mais uma pintura das que fiz para o Pelican Bay Hotel. Como as demais deste conjunto, esta nasceu diretamente do meu mais profundo inconsciente.


"O Super-homem" - óleo e pasta de cera s/ mansonite - 60 X 90 cm - 2001.
E por aqui termino a exposição desta miscelânea de imagens. Se futuramente encontrar em meu acervo outros trabalhos interessantes que tenham ficado de fora deste meu relato visual e autobiográfico, os colocarei para o conhecimento de vocês.

4 comentários:

Anônimo disse...

Olá, Ricardo, tudo bem?
É sempre um prazer ver teu blog, saber de tua trajetória como artista...Fico estimulada a dar vazão às minhas idéias "bizarras" no que diz respeito a pintura. Adorei a série colagens! Vi que é possível combinar períodos importantes da hist. da arte e proporcionar leituras variadas para uma mesma imagem. Deverias expor esses trabalhos. Parabéns!!
Agora, é sempre complicado saber exatamente o que os críticos de arte entendem como arte Naif, que critérios estabelecem. Voce sabe?
Um abraço. Lenir.

Ricardo A. B. Pereira disse...

Oi, Lenir.Mais uma vez obrigado pela gentileza dos seus comentários. Esta série em que juntei imagens retiradas de contextos diferentes, históricos e meus, é uma das que mais gosto e está bem dentro do gosto contemporâneo pela "apropriação" e pela "releitura". Não costumo andar muito por estes caminhos, o de trabalhar a partir de imagens prontas, mas neste caso a intenção era a de me desafiar a encontrar uma solução pessoal que proporcionasse uma abertura para novas visões, através de contextos realmente bizarros e bem humorados.Infelizmente nunca surgiu uma oportunidade para expor estes trabalhos, mas eles estão aí, via internet, para o mundo ver.

Quanto a questão da arte "naïf" ou "primitiva", acredito que sempre haverá polêmica. Do meu ponto de vista, um artista com esta característica, para além de possuir pouca instrução geral e sobre arte especificamente, trabalha como se fosse uma espécie de força da natureza, num impulso que o leva a criar por pura vontade de expressar as coisas do seu mundo interior e a sua relação com o meio em que vive. De um modo geral todos os artisas, primitivos ou não, possuem este impulso, mas os primitivos, eu diria, são muito mais institivos (e também intuitivos) do que os ditos "eruditos". Estes são governados mais pela razão baseada em seus conhecimentos auferidos por longos anos de estudo e, um pouco também, por sua intuição criadora, mas muito pouco por seus instintos.
Eu não me considero um artisa primitivo, especialmente por causa da minha formação acadêmica. Contudo, não nego minhas raízes nordestinas, populares, que estão sempre aflorando em minhas obras, sejam elas de pintura, gravura, cerâmica ou escultura. Afinal de contas, sou fruto desta terra e não vou e não quero nega-la, muito pelo contrário. Para mim, o artista só atinge o universal a partir do particular, quando ele tiver uma identidade própria, nascida da sua relação com a cultura onde foi gerado.

Agora, sobre os critérios dos críticos com certeza vamos encontrar os mais variados, mas primeiro teremos que procura-los nas páginas do passado, pois na aualidade está difícil encontra-los (onde é que eles se meteram?).

E por falar em exposição, no ano que vem (em abril) estarei expondo na galeria Macunaíma, recentemente inaugurada na EBA/UFRJ, como você sabe. Os trabalhos serão os mais recentes, todos paisagens da série criada ao longo deste ano, chamada "Viagem à Trancoso". Vai ser a primeira vez que faço uma exposição de paisagens, que não é um gênero muito comum na minha trajetória, mas no qual mergulhei de cabeça este ano, movido pela ótima experiência que tive ao visitar a Bahia no carnaval deste ano que finda.

Aguarde o convite.

Um abraço, Feliz Natal e um ótimo 2009.

Ricardo A. B. Pereira

Claudia Loureiro disse...

Olá Ricardo!!! Gosto muitissimo de visitar teu blog, vejo suas obras muito mais contemporaneas que naif. São deliciosas, verdadeiras guloseimas para o olhar!!!!
Abração!!

Ricardo A. B. Pereira disse...

Obrigado, Cacau Loureiro. Que bom que minhas obras são doces ao seu olhar. Esta é uma das funções da arte: atenuar o amargor que a vida às vezes nos apresenta.

No ano que vem continue acompanhando as postagens, pois ainda tenho muita arte para mostrar.

Um Feliz Natal e um 2009 repleto de muitas realizações e alegrias.

Ricardo A. B. Pereira