sábado, 27 de novembro de 2010

Mathias - Novo retrato Afro-Brasileiro

Este tema dos "Retratos Afro-Brasileiros" (ou "Afrobrasileiros" segundo a nova ortografia portuguesa) pode ser desenvolvido infinitamente e, portanto, enquanto me interessar por ele vou lhe dar prosseguimento através de novos exercícios, buscando sempre criar figuras que, ainda que tenham suas particularidades específicas, sejam estilisticamente relacionadas ao conjunto total da série.

Desta vez trago o "Mathias" (nome sugerido por minha filha) que, como podem ver, é um sujeito anguloso, sorridente e colorido. Como seus outros amigos, ele é construído muito graficamente, tendo como suporte uma superfície rígida preparada com colagem de tecidos com texturas diferentes, tecidos estes cujo objetivo principal é me impor uma dificuldade inicial ao lançamento da forma figurativa. A estilização geometrizada das formas, derivada da arte africana (que muitos associarão ao Cubismo), me ajuda a “assentar” a figura sobre tais elementos colados, sendo as diversas áreas da face definidas pelo jogo criado entre as cores. Estas são lançadas entre as linhas brancas construtivas da forma, sendo sua aplicação feita em camadas sucessivas a partir da primeira cor em têmpera (neste caso um azul ultramar bastante profundo); as cores subseqüentes foram aplicadas com a minha já tradicional mistura de óleo e pasta de cera (ou “pseudoencáustica”).

O resultado pode ser visto tanto como uma figura - uma cabeça - extremamente estilizada quanto um jogo muito dinâmico de cores, formas e texturas sobre uma superfície plana; jogo este com o qual muito me identifico e que é, no fim das contas, meu principal interesse. É para mostrar mais de perto este jogo que, como nos meus dois trabalhos anteriores (os “Autoretratos”), resolvi apresentar também uma série de detalhes da obra – recortes - alguns deles que são verdadeiras obras abstratas independentes. Isto, para mim, deixa muito claro que no fundo esta diferenciação entre “abstrato” e “figurativo” não tem muito sentido, pois toda a pintura é construída a partir de conceitos abstratos e utilizando elementos formais fundamentalmente abstratos (como a linha). Portanto, uma coisa leva a outra e vice-versa.

Até a próxima.



Ricardo Pereira - "Mathias" - colagem, têmpera de caseína, óleo e pasta de cera sobre mansonite - 60 X 91 cm - 2010.



Ricardo Pereira - "Mathias" - detalhes 1 e 2.


Ricardo Pereira - "Mathias" - detalhes 3 e 4.


Ricardo Pereira - "Mathias" - detalhes 4 e 5.


Ricardo Pereira - "Mathias" - detalhe 6 e 7.


Ricardo Pereira - "Mathias" - detalhe 8.

3 comentários:

Anônimo disse...

Gosto dessa mistura de técnicas e da linguagem usada, têm também uma cromática bastante atractiva.

Parabéns :)

Ricardo A. B. Pereira disse...

Obrigado Ilda.

Ser "atrativa" é um dos maiores méritos que uma pintura pode ter. E consegui-lo a partir da combinação de tantas informações visuais díspares, sem que tudo vire um caos, é outra coisa que me agrada.

Um abraço.

Ricardo A. B. Pereira

Thati Rodrigues disse...

Oi Ricardo

Fui sua aluna na Escola de Belas artes. Muito bom encontrar esta galeria na internet. Relembrei as lições sobre cor e forma.

Abraço,

Thatiane

ps. gostaria de manter contato : thati.mitzin@gmail.com