quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Autoretrato Com Gorro Africano

Prosseguindo na criação de “autoretratos”, acabei de realizar este “Autoretrato com Gorro Africano” dentro das mesmas características de estilo do anterior, ambos relacionados a esta série que venho realizando no contexto “afro-brasileiro”.

Como no outro trabalho, tive a intenção de criar uma imagem onde convivessem elementos abstratos e figurativos numa espécie de “tensão harmonizada”. Ou seja, em cima de uma estrutura abstrata, relativamente geometrizada (construída com colagens de recortes de tecidos de formatos e texturas diferentes), lancei o desenho simplificado do meu autoretrato, sabendo de antemão que tal estrutura e desenho iriam estar em conflito.

Como não houve qualquer planejamento prévio, a idéia foi a de me propor o desafio de tentar harmonizar uma coisa com a outra através do improviso quase total, ainda mantendo as características básicas das duas propostas (as da abstração e da figuração), colocando-as numa espécie de "convivência forçada". Como nos trabalhos recentes, a “costura” entre estes dois elementos díspares se deu através da cor e dos elementos gráficos e lineares introduzidos. Fazendo uso de cores complementares (que se contrastam enquanto se atraem) e relacionando determinadas áreas geométricas dentro da figura com outras do lado de fora através destas cores e dos elementos lineares, criei ligações visuais entre setores internos e externos, “prendendo” o desenho figurativo na trama abstrata. Como o autoretrato se baseia num linearismo muito simples (só linha, sem claro-escuro) sendo, portanto, transparente, este jogo entre formas, cores e linhas se torna relativamente equilibrável. E para assentar um pouco mais facilmente as coisas, diferentemente do autoretrato anterior, neste acabei por optar por um plano de fundo em padrão liso e único, de cor vermelha forte com linhas verticais verdes, sobre o qual se desenrola o embate entre abstração e figuração.

Também introduzi áreas pintadas de branco, coincidentes com o elemento figurativo, para ajudar na leitura da forma; e, arrematando, um elemento temático, fortemente geométrico, em preto e branco, foi colocado no alto da cabeça da figura com a função de criar mais uma ponte entre os contextos abstrato e figurativo. Desta maneira, o olhar do espectador pode passear seguindo o forte caminho da linha preta de contorno, indo até o gorro e voltando, ou pegar “atalhos” no meio de percurso para perambular sobre as linhas coloridas das formas geométricas, saltitando pelos elementos gráficos rítmicos ou atravessando mais lentamente as asperezas coloristicamente acentuadas e diferenciadas dos tecidos colados ao suporte (principalmente se olhar mais de perto).

Comparando este autoretrato com o anterior, considero este resultado visualmente mais simples e direto. Por outro lado, nos dois casos a verossimilhança não foi muito respeitada; contudo, isto não me preocupa, principalmente porque sei que todos nós somos compostos por vários “eus”; então, que este “eu com gorro africano" seja apenas mais uma das minhas várias facetas. Outras virão mais adiante.




1- Ricardo Pereira - "Autoretrato com Gorro Africano" - colagem, têmpera de caseína, óleo e pasta de cera sobre mansonite - 90 X 60 cm - 2010.



2- Detalhe A.


3- Detalhe B.


4- Detalhe C.



5- Detalhe D.



6- Detalhe E.

2 comentários:

Unknown disse...

Bom dia Ricardo.

Eu estava pesquisando sobre características da pintura africana e encontrei os seus autorretratos. Achei-os muito interessantes!
Talvez pudessemos mostrar o seu trabalho para os meus alunos.
O que acha da minha proposta? Indecente? Responda por favor.

Ricardo A. B. Pereira disse...

Olá Tata, obrigado. Além destes autoretratos, no link “postagens mais antigas” você poderá ver uma série intitulada "Retratos Afrobrasileiros", onde desenvolvo mais esta minha releitura dos temas africanos (especialmente as máscaras) sob minha ótica particular ("afrobrasileira"). Também em http://rpceramica-arte.blogspot.com ou http://ricardopereirarte.artelista.com será possível ver minhas esculturas em cerâmica sobre este mesmo tema, além de vasos, azulejos e outras coisas mais.

Quanto a mostrar meus trabalhos aos seus alunos, isso vai depender de onde você está. Porém, acredito que o melhor meio seria vê-los em minha próxima exposição (que estou tentando para o ano que vem no Rio). Lá pretendo mostrar esta temática desenvolvida através da pintura, da cerâmica e da xilogravura, buscando mostrar como cada uma destas linguagens plásticas proporciona resultados diferentes, mas estilisticamente relacionados.

Um abraço.

Ricardo A. B. Pereira