sábado, 19 de dezembro de 2009

Projetos para Murais em Pedra - 2009

Este ano de 2009 foi pródigo em projetos não realizados, todos eles de grandes proporções. Um dos principais foi o de seis murais para o edifico onde fica a sede de uma importante instituição cultural brasileira, no centro da cidade do Rio de Janeiro.

Fui convidado a desenvolver estes projetos por uma arquiteta amiga e apreciadora de arte, a Francyla, com quem já havia trabalhado antes, cuja missão era a de reformar o hall de entrada do tal edifício de maneira a adequa-lo aos tempos atuais e humaniza-lo. Para tanto, além de sua eficiente intervenção arquitetônica, ela pediu que eu criasse murais que levassem arte às paredes dos corredores de acesso dos elevadores, dotando-lhes de vida e calor artísticos.

Assim, iniciei os estudos projetando murais para serem executados em azulejo, sendo um deles no tradicional azul cobalto e os demais policromados. Contudo, a administração do prédio rejeitou a idéia e pediu que eu desenvolvesse a proposta para ser feita em pedra (mármores e granitos). Como gosto de desafios, aceitei a incumbência e fiz os estudos a serem posteriormente executados por uma marmoraria.

Desta forma trabalhei em duas idéias, a primeira sendo um mural figurativo, chamado “Homens, Peixes e Pedras”, com figuras estilizadas geometricamente e fazendo alusão às fontes africana e indígena de nossa arte brasileira, mas num contexto modernista que se harmonizasse com o estilo Moderno do prédio (projetado por importantes arquitetos cariocas) e com o seu tipo “brutalista”, todo em concreto aparente. Para tanto as figuras são construídas em módulos que se combinam através de suas formas, diversas cores e tons dos mármores e granitos aplicados, criando ritmos visuais, grupos de figuras e formas planas que se relacionam dinamicamente entre si e disputam a atenção do nosso olhar.

Na segunda idéia desapareceram as referências étnicas, dando lugar a um dinamismo maior de formas puramente geométricas e assimétricas, distribuídas sob a superfície da parede como se flutuassem no espaço tal e qual “rochas cósmicas no Cinturão de asteróides ou blocos de gelo nos Anéis de Saturno” .

Nas duas propostas a cor do concreto aparente das paredes tem participação ativa, funcionando muitas vezes como um recorte negativo, onde surgem formas criadas pelo espaço vazio. Além disso, a minha idéia era proporcionar tanto com um quanto com o outro mural momentos de prazer e fruição estética aos freqüentadores e visitantes do edifício (que também é sede de muitas empresas de grande porte), de maneira que ao aguardarem nas filas dos elevadores, estas pessoas pudessem se distrair dos seus problemas e “viajassem” a outros mundos através das formas, cores e texturas diversas proporcionadas pela visão dos murais.

Mas, infelizmente, por problemas externos que fogem ao escopo desta postagem e devido a certo conservadorismo e receio do novo, nenhum dos dois projetos foi aprovado pela diretoria atual da instituição, que “passou a bola” para a próxima diretoria a entrar em 2010, que dará uma palavra final sobre o assunto. Desta forma, enquanto toda a parte de reforma arquitetônica está sendo executada no hall, fico aguardando para (quem sabe?) no próximo ano ver meus murais sendo colocados naquelas imensas e frias paredes. Então, só me resta esperar e torcer...

Mas enquanto isso, seguem os projetos para os murais cujas dimensões são 3 X 10 m e 2,7 X 7 m (tanto os figurativos quanto os abstratos). Os estudos foram feitos com lápis de cor, sendo que os abstratos foram trabalhados no Photoshop pelo arquiteto da equipe responsável pela criação das maquetes de todo o projeto da reforma, visando dar maior realidade à idéia quanto as cores e texturas dos mármores e granitos a serem utilizados.

Figurativos:



1- "Homens, Peixes e Pedras I"- estudo em lápis de cor , 15 X 50 cm - 2009.



2- "Homens, Peixes e Pedras II" -estudo em lápis de cor, 15 X 50 cm - 2009.



3- "Homens, peixes e pedras III" - estudo em lápis de cor, 15 X 34,5 cm - 2009.


Abstratos:



1- Mural Abstrato I - estudo editado digitalmente, 15 X 50 cm - 2009.



2- Mural Abstrato II - estudo editado digitalmente, 15 X 50 cm - 2009.



3- Mural abstrato III - estudo editado digitalmente, 15 X 34,5 cm - 2009.

Concluindo, aproveito para desejar a todos um Feliz Natal e um 2010 de muitas Felicidades, Paz e Amor e que todos os nossos projetos se realizem.

Um abraço e até o ano que vem, quando continuarei contando aqui a minha "história ilustrada".

Ricardo A. B. Pereira

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O Melhor Amigo do Artista

Desta vez vou trazer uma série de pinturas feitas no ano passado (2008), juntamente com mais três obras antigas (anos 70 e 80 - já expostas aqui em outro contexto), que realizei para homenagear alguns amigos meus antigos e novos, com os quais sempre mantive uma ligação muito positiva de verdadeira amizade.

São os meus (e/ou da minha família) cães, que "posaram" para mim de boa vontade para terem seus retratos pintados. Estou em vias de fazer uma exposição deles, só está faltando acertar alguns detalhes. Por enquanto, segue sua exposição virtual:

1- "A Contemplação do Infinito (Karina)" - óleo e pasta de cera sobre mansonite - médio formato - 2008.
Grande Karina, esta deixou muitas saudades. Agora ela contempla a Imensidão para além de todo o bem ou mal.

2- "Samantha Metafísica" - óleo e pasta de cera s/ compensado - pequeno formato - 2008.
Samantha, figuraça, companheira da Karina, pequena, delicada, mas valente caçadora de ratos e gambás. Faz um barulho terrível no portão.

3- "Esquentando o Lombinho (Ajax)" - óleo e pasta de cera s/compensado - peq. formato 2008.
O pequeno Ajax, outro que deixou saudades. Adorava um cafuné, mas era "brabo".


4- "Cliff, O Caçador de Estrelas" - óleo e pasta de cera s/ compensado - peq. formato - 2008.
Grande Cliff, um pastor português (da Serra da Estrela) que foi cedo para o céu. Aqui caçava gambás, lá deve caçar estrelas.

5- Ícaro" - óleo e pasta de cera s/ compensado - peq. formato - 2008.
Este é um enorme "crianção", assusta, late grosso, mas é bobo que só ele. É o guardião da casa da minha mãe.

6- " O Guardião Perneta (Scooby)" - Óleo e pasta de cera s/ compensado - peq. formato - 2008.
Este é o Scooby, outra "figuraça". Pertence a minha vizinha, D. Neiva.

7 - "A Varanda da Melancolia (Atlas)" -óleo e pasta de cera/ mansonite - médio formato -1996.
Este é o grande Atlas, pai da Karina. Grande amigo, às vezes rabugento, um tremendo garanhão, mas também muito caseiro. Está descansando em sua varanda no infinito...

8 - "Titã em Meditação Profunda" - óleo sobre tela - médio formato - 1985.
Velho Titã. Também deixou saudade. Aqui ele dorme e medita em seus sonhos caninos.


9 - Titã em Viagem Multidimensional" - óleo sobre mansonite - Médio formato - 1985.
Outra viagem de Titã (ou minha). Como o anterior, foi pintado enquanto eu ainda era aluno do curso de pintura da EBA.

10 - O Mundo de Hollo" - óleo sobre tela - peq. formato - 1976.
Este me acompanhou durante toda a infância e como a Karina deixou uma saudade imensa quando se foi. Foi o primeiro homenageado, em uma obra da minha adolescência, que mostra o seu lugarzinho no além.


11 - "Eu e Titã" - 2009.

12- "Eu e Karina" - Desenho a lápis 8B - A3 - 2008.

Até a próxima.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Viagem a Trancoso - Croquis

Para completar estas postagens sobre a série de trabalhos “Viagem a Trancoso”, seguem agora os croquis que fiz durante os dez dias que passei no carnaval de 2008 naquela região, particularmente em suas praias e rios. Estes desenhos foram feitos de forma muito rápida, como anotações breves, apenas pelo prazer de fixar momentos felizes, e testemunham meu entusiasmo pela experiência ali vivida.



1- "Cabana no Rio Trancoso"
2- "Casinhas do Quadrado"

3- Igreja de São João

4- "Falésias no Rio da Barra"
5- "Praia dos Nativos - Bangalô"
6- "Falésias no Rio da Barra II"
7- "Praia em Caraíva"
8- "Praia em Caraíva II"
9- "Praia em Caraíva III"

10- "Rio da Barra"
11- "Praia dos Nativos - Coqueiros"

12- "Praia dos Nativos - Rio da Barra"
13- "Ilhota no Rio Trancoso II"

14- "Ilhota no Rio Trancoso"

15- "Praia do Nativos - Barcos"
16- "Barco em Caraíva"

17- "Barco na Praia dos Nativos"

18- "Bete Dormindo à Sombra do Coqueiro"
19- "Rio da Barra"
20- "Praia dos Nativos - Banhistas III"
21- "Praia dos Nativos - Banhistas IV"
22- "Praia dos Nativos - Banhistas I"
23- "Praia dos nativos - Banhistas II"

24- "Pé de Melancia no Quintal"
25- "Composição à Beira-Mar"
26- "Botafogo" (com a contribuição de Maria Rúbia")

terça-feira, 5 de maio de 2009

Viagem a Trancoso - Fotos da Inauguração, Convite e Textos

Seguem agora as fotos da inauguração, o convite e os textos de apresentação da minha exposição "Viagem a Trancoso".

Esta exposição tem muita importância para mim pois está acontecendo num espaço muito tadicional, a galeria Macunaíma, que foi reinaugurada no âmbito da EBA/ UFRJ, seu local de origem e importante centro de ensino de artes, fundada por D. João VI, onde em quase duzentos anos de hitória muitas gerações de artistas foram formadas, muitos dos quais de grande importância para a nossa cultura. Me orgulho de estar expondo nesta galeria, no âmbito desta importante instituição na qual me formei e trabalho como professor sempre que surge uma oportunidade.
Convite:

Textos de Apresentação:

VIAGEM A TRANCOSO

No carnaval de 2008 viajei com minha família à Bahia para conhecer a região de Trancoso e proximidades. Desta feliz experiência nasceram as pinturas que agora mostro na galeria Macunaíma, na qual fico muito honrado em expor. Foram dez dias muito interessantes passados junto às praias, rios e uma cultura bastante peculiar, onde pude apreciar festas que misturavam o profano e o religioso em meio a igrejas e casarios simples e repletos de valor histórico.

Tocado por estas belezas naturais e culturais, tratei de fixar em desenhos, fotos e pinturas boa parte do que vi e vivenciei. E para tanto a pintura de paisagem, gênero com o qual não costumo trabalhar me foi, neste momento, o mais adequado e desafiador para expressar a minha emoção em relação à experiência vivida. Este gênero tão tradicional da pintura é um excelente meio para o desenvolvimento de uma linguagem plástica própria, devido as muitas situações que apresenta ao artista para exercitar o olhar e a sua capacidade de interpretar o que vê, traduzindo em cores e formas todo o mundo ao redor segundo sua maneira particular de sentir.

Nos trabalhos expostos existe algo de documental, que se revela na marcante fidelidade às cores e formas retratadas. Neste caso, esta fidelidade deve-se a dois fatores principais: o uso das minhas próprias fotografias como referência e meu desejo de não me afastar demasiadamente da cor local. Mas isto não impediu que cores e texturas diversas fossem trabalhadas de um modo particular, combinando superfícies lisas e empastadas bem no contexto da minha linguagem plástica e da técnica pictórica de minha preferência, o óleo e a pasta de cera.

São, enfim, pinturas que buscam somar de forma harmoniosa a técnica e a poética para expressarem toda a emoção de quem viveu uns bons momentos num ponto muito singular do Brasil. Se estas obras traduzirem um mínimo que seja desta experiência, levando o expectador a sentir um pouco da felicidade que senti naquela ocasião, me darei por satisfeito.

Estão todos convidados a compartilharem comigo esta Viagem a Trancoso.

Ricardo A. B. Pereira
-------------------------------------------------------------------------------------------------

Para a Escola de Belas Artes é um privilégio expor estes trabalhos inéditos de Ricardo Pereira, e para mim uma honra comentá-los. Ricardo já lecionou no curso de pintura e escultura diversas vezes e é um pintor, gravador e ceramista nato. Nesta oportunidade nos apresenta uma série de paisagens que inaugura uma nova linha de pesquisa em sua obra. Com satisfação vemos como a maturidade do pintor logo se apresenta, mesmo se tratando de caminhos nunca dantes trilhados – a paisagem de determinado local específico. Ricardo mantém sua singularidade, seu gosto pelas pastas e cores, sua sensibilidade para o jogo das grandes áreas e para o desenho gráfico. Depara-se com uma questão nova em sua obra, a representação do espaço, e nos oferece soluções belíssimas. De fato vale comentar alguns aspectos desta produção singular.

Como exemplo gostaria de citar um quadro que considero uma obra prima: A Árvore Anciã.



Em primeiro lugar não é de hoje que Ricardo pinta paisagens. Encontramos em sua vasta obra bosques, árvores, plantas isoladas e até mesmo paisagens de outros planetas.



Nesta versão do bosque, por exemplo, sentimos forte inspiração (ele não faz segredo disso) na obra de Dubeffet. A estas alturas (1985) percebemos já que a referência é temperada pela busca por uma plástica pictórica própria e por soluções autenticas de cor. É o pintor explorando seus meios, absorvendo o que acha interessante e cunhando seu caminho singular. O olhar apressado poderia supor que este bosque e a Árvore Anciã são variação do mesmo. Mas algo inusitado acontece nessa última fase que abre uma segunda questão.

O segundo ponto é que estas obras nasceram de uma viagem, onde o pintor se depara e encanta com uma nova paragem – Porto Seguro. Ao chegar ao local Ricardo foi logo procurar uma loja onde pudesse encontrar pelo menos papel e lápis para fazer suas anotações. O pintor sempre vê mais e melhor quando desenha as coisas. Ap retornar da viagem continuou a pensar e trabalhar isso “que pedia para ser pintado”. Na Árvore Anciã sentimos o calor do sol local. Sentimos o ar fresco no interior da grande árvore. Sentimos que a sombra é acolhedora. Sentimos o mar calmo e o céu poderoso. E como é genial a pequena árvore à esquerda. Ela é a própria copa descendo e encostando um dedinho no chão. A um só tempo equilibra e quebra a simetria que sem ela poderia se tornar excessiva, vai entender. E o caminho? Vemos os passos daqueles que querem chegar rápido na praia, deixando a terra nua nos lugares mais planos do terreno. E o vemos simultaneamente como uma linha reta, gráfica, dialogando plasticamente com os galhos da Árvore Anciã.

Ricardo não atropela o motivo com sua plástica, não está preocupado com estilo ou coisas do gênero. Poderíamos mesmo dizer que anula a si mesmo, cedendo sua visão, sua mão, sua obra e linguagem, toda sua vida e experiência ao que assim pedia para ser pintado. Numa autêntica comunhão pictórica, paisagem, pintor e pintura dialogam naturalmente, como se tais soluções plásticas fossem as únicas possíveis para pintar Porto Seguro. Há que ser ter forte temperamento, maturidade e modéstia para deixar que a paisagem se expresse através de si – assim. O simples não é nada fácil.

Marcelo Duprat
-------------------------------------------------------------------------------------------------

1- Aspectos da exposição:









2- Minha esposa, professores e alunos da EBA, todos amigos presentes na inauguração:



3- Sempre vale a pena trocar impressões com o público (minha cara de satisfação):
Na próxima postagem trarei os croquis que realizei durante a viagem.