O tema da "Afro-brasilidade" é frequente em minhas obras, como já ficou claro para quem acompanha o meu trabalho na pintura, na cerâmica, na gravura ou na escultura. Mas isto não acontece por eu ser um especialista em arte africana, em história da África ou, muito menos, nas culturas e religiões africanas que se misturaram com a européia e a indígena para formar o nosso sincretismo tão característico. Com certeza, estes não são os motivos. Na verdade, como já afirmei mais de uma vez, meu interesse é basicamente de ordem plástica; então interessam-me particularmente as características visuais das máscaras, das esculturas e as da arte africana em geral, seu estilo
sintetizador da forma, independentemente do que simbolizam. Por isso, meus personagens "afro-brasileiros" não representam quaisquer entidades, deuses,orixás, encantamentos etc. das religiões afro-brasileiras. São eles, apenas, fulanos e ciclanos com traços africanos nascidos no Brasil a partir da minha imaginação sincrética. Meu objetivo, portanto, é, parafraseando certas características da arte africana, criar um universo que não só remeta àquela cultura ancestral, além de possivelmente à outras, mas que também crie um universo particular, com uma beleza específica no trato com as cores e formas com as quais, direta ou indiretamente, por nossa ligação com a África, convivemos.
Vem daí que resolvi criar composições pictóricas em que estejam presentes imagens de criações realizadas em outros meios utilizados por mim e que abordem esta afro-brasilidade. Estas composições nada mais são do que "naturezas-mortas", um gênero de pintura com enorme tradição na Cultura Ocidental. Desta forma, peguei esculturas em cerâmica ou cimento que realizei recentemente ( expostas em
http://rpceramica-arte.blogspot.com.br ) e, associando-as com outros elementos de caráter cênico, criei composições muito coloridas que podem ser entendidas de um ponto de vista plástico, mas que devido às relações criadas entre objetos com significados muito diferentes, também permitem uma leitura simbólica. Isto não que dizer que sejam "despachos pintados", porém que, de acordo com a imaginação de cada um, podem e devem suscitar interpretações variadas (inclusive, quem sabe, a de "despacho").
Por outro lado, estas pinturas estão num claro contexto de metalinguagem, pois me refiro a minha própria obra (no caso a tridimensional) através da criação de outras obras (de caráter bidimensional), o que, evidentemente agrega novos valores tanto a uma quanto a outra. Esta inter-relação entre os gêneros artísticos me parece muito sugestiva, verdadeiramente instigante para a imaginação, o que é algo muito importante quando o assunto é arte.
Seguem as quatro
Composições afro-brasileiras:
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1- Ricardo A. B. Pereira - Composição afro-brasileira I, têmpera de caseína, óleo e pasta de cera sobre tela colada em compensado, 50 X 45 cm, 2013. |
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2- Ricardo A. B. Pereira - Composição afro-brasileira II, têmpera de caseína, óleo e pasta de cera sobre tela colada em compensado, 69,5 X 43,3 cm, 2013. |
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3- Ricardo A. B. Pereira -Composição afro-brasileira III, têmpera de caseína, óleo e pasta de cera sobre tela colada em compensado, 33,5 X 40 cm, 2013. |
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4- Ricardo A. B. Pereira - Composição afro-brasileira IV, têmpera de caseína, óleo e pasta de cera sobre tela colada em compensado, 50 X 35 cm, 2013.
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Vou ficando por aqui. Um abraço e até a próxima.
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