sexta-feira, 15 de agosto de 2008

2001- Série Pelican Bay Hotel

Entre 1998 e 2002 lecionei mais uma vez como professor de Pintura na EBA. Ao mesmo tempo trabalhei com uma equipe restaurando azulejos portugueses da fachada de um prédio tombado, construído no século XIX e pertencente a prefeitura de Niterói, o Solar do Jambeiro.

Em 2000 fui contatado por um dos sócios da loja de arte Artmosphere, situada em Palm Beach, para a qual já havia vendido cerâmica em 95/6. Desta vez eles estavam interessados em levar pinturas minhas, além de comprar novas cerâmicas (sobre a história destas novas cerâmicas falarei no meu outro blog: http://rpceramica-arte.blogspot.com/). Acabaram comprando várias pinturas de pequeno e médio formato, principalmente as inspiradas em arte africana (“Cabeças”, “Máscaras” e “Totens”). Neste meio tempo pintei os quadros da série “Sonhos Tropicais II”, mencionados na postagem anterior, enquanto seguia trabalhando na EBA e no Solar do Jambeiro.

Mas veio o ano de 2001 e, para minha grande surpresa e alegria, os donos da Artmosphere me contataram de novo, lá pelo mês de abril, para me fazer a seguinte proposta: pintar 144 quadros, tamanho 60 X 90 cm, para um hotel das Bahamas, cujo proprietário era cliente deles, já havia comprado quadros meus para a própria residência e agora queria encomendar meus trabalhos para decorar os apartamentos do seu novo hotel, a ser inaugurado, o Pelican Bay Hotel. O único problema é que eu teria um prazo curtíssimo para pintá-los: 4 meses. Esta proposta me foi feita ao celular, enquanto eu caminhava numa rua movimentada de Niterói à caminho de casa e era necessário que a resposta fosse imediata. Não pensei duas vezes e aceitei a proposta no ato, mesmo sabendo da enormidade da tarefa que me aguardava. Mas não sou de negar desafios e sempre confiei na minha capacidade criativa e de organização; aquela encomenda foi para mim como um prêmio, principalmente naquele momento da minha vida em que vinha passando vários apertos, mesmo que significasse 4 meses de trabalho incessante, dividindo o tempo entre a pintura e a obra de restauração com a qual tinha um contrato a ser honrado.

Mas com determinação e o apoio de minha esposa, Bete, pude achar tempo e organizar todo um esquema para dar conta da encomenda, desde a montagem e imprimadura dos suportes (mansonite montado em chassi de cedro), passando pela criação dos desenhos preparatórios e a execução final das obras. Felizmente o tema escolhido para os trabalhos era os das “Cabeças” e “Figuras” de inspiração africana, misturado com outras influências, que eram já tema do meu repertório e que agradara ao cliente, tanto que ele comprara alguns para si. Mesmo assim, cabia a mim não me repetir, caindo no erro da produção em série, procedimento que detesto, pois não tem relação com a verdadeira arte. Desta forma busquei variar ao máximo, principalmente através de procedimentos técnicos diversificados na aplicação das cores e no trabalho com a tinta, afim de alcançar efeitos plásticos inusitados e alegres.

Comecei pelas figuras e após dois meses de trabalho havia concluído metade da encomenda, recebendo a provação do Marcel (um dos donos da Artmosphere) que veio ao Brasil para ver como estava o andamento do trabalho. A partir daí passei às figuras, feliz por poder abordar este outro tema, relacionado com o anterior, mas que me permitia ainda maior variedade nos resultados.

Então, no prazo final, já sentindo os efeitos de uma estafa (tive até calafrios em uma ocasião, após a conclusão dos trabalhos do dia) consegui terminar o último trabalho. Senti uma sensação fantástica de satisfação e felicidade, pois realizara um trabalho verdadeiramente hercúleo, que me custara horas e horas de dedicação. Mas valeu a pena, as pinturas ficaram ótimas, modéstia à parte, muito vivas em cor, alegria e expressividade. E com o dinheiro que ganhei neste trabalho pude comprar a minha casa, onde moro com a Bete e com a Maria Rúbia, minha filha, na qual também continuo criando minhas obras.

Dos 144 trabalhos, selecionei 20 imagens, que serão postadas neste blog em 2 partes.


Eis as 10 primeiras:


1- "Abigail" - óleo e pasta de cera s/ mansonite - 90 X 60 cm - 2001.
2- "Onça Pintada" - óleo e pasta de cera s/ mansonite - 90 X 60 cm - 2001.


3- "A Sambista Afro-Chinesa" - óleo e pasta de cera s/ mansonite - 90 X 60 cm - 2001.
4- "Zé Prancha" - óleo e pasta de cera s/ mansonite - 90 X 60 cm - 2001.


5- "Marina de Baby Dool" - óleo e pasta de cera s/ mansonite - 90 X 60 cm - 2001.
6- "Jorjão" - óleo e pasta de cera s/ mansonite - 90 X 60 cm - 2001.


7- "A Loura do Tchan" - óleo e pasta de cera s/ mansonite - 90 X 60 cm - 2001.
8- "Anika" - óleo e pasta de cera s/ mansonite - 90 X 60 cm - 2001.


9- "Shirley Cósmica" - óleo e pasta de cera s/ mansonite - 90 X 60 cm - 2001.
10 - "Juvenal" - óleo e pasta de cera s/ mansonite - 90 X 60 cm - 2001.

Este primeiro conjunto foi misturado, Cabeças e Figuras, porque acho que se complementam, mostrando bem o contexto bem-humorado de toda a série. Nestas pinturas, penso, ficam visíveis a interpenetração entre as linguagens da pintura, cerâmica e xilogravura, meus procedimentos de expressão artística. Isso é fruto de anos de dedicação e trabalho árduo, fico realmente feliz com estes resultados.

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