sábado, 30 de abril de 2022

 GUACHES - ANOS 90


No ir e vir em meu trabalho, retorno agora ao início dos anos 90 quando resolvi pintar um conjunto de guaches sobre papel Canson. A técnica em si não era novidade para mim, mas quis utilizá-la de maneira bem livre para que se adequasse à liberdade de experimentação que continua sendo do meu interesse até hoje. Assim, misturando diferentes referências que incluíam Jean Dubuffet, Paul Klee, arte infantil e arte ancestral, desenvolvi trabalhos figurativos, alguns simbólicos. Nesta postagem apresentarei uma seleção destes trabalhos que reencontrei em 2020, durante a pandemia, ao remexer em minha mapoteca em busca de antigas experiências artísticas.



Ricardo A. B. Pereira - "Adailton", guache, 44 X 31,5 cm, 1991.



Ricardo A. B. Pereira - "Adriela", guache, 44 X 31,5 cm, 1991.



Ricardo Pereira - "Ambrósio", guache, 44 X 31,5 cm, 1991.



Ricardo A. B.  Pereira - "Índio", guache, 44 X 31,5  cm, 1991.



Ricardo A. B. Pereira - "Nonato", guache, 44 X 31,5 cm, 1991.



Ricardo A. B. Pereira - "Onofre", guache, 44 X 31,5 cm, 1991.



Ricardo A. B. Pereira - "Tibúrcio", guache, 44 X 31,5 cm, 1991.



Ricardo A. B. Pereira - "Zé", guache, 44 X 31,5 cm, 1991.



Ricardo A. B. Pereira - "Companheiros", guache, 45 X 32,5 cm, 1990.



Ricardo A. B. Pereira - "Manifestação", guache, 45 X 32,5 cm, 1990.



Ricardo A. B. Pereira - "Comunidade", guache, 32,5 x 45 cm, 1991.



Ricardo A. B. Pereira - "Aquanautas", guache, 32 X 46, 1991.



Ricardo A. B. Pereira - "Inverno", guache, 32 X 46, 1991.



Ricardo A. B. Pereira - "Outono", guache, 32 X 46, 1991.



Ricardo A. B. Pereira - "Recordação", guache, 44,5 X 32 cm, 1990.



Ricardo A. B. Pereira - "Seta", guache, 32 X 46, 1991.



Ricardo A. B. Pereira - "Verão", guache, 32 X 46, 1991.




Ricardo A. B. Pereira - "Vermelho", guache, 44,5 X 32,5 cm, 1990.















domingo, 24 de abril de 2022

 SÉRIE "MARTIM CERERÊ" 


A série Martim Cererê, que toma por base a obra do escritor modernista Cassiano Ricardo, é fruto do encontro do tom fantasioso - às vezes lírico, outras apoteótico, mas sempre muito imaginativo - daquele texto com minha própria imaginação em busca de dar forma plástica a determinadas passagens de sua narrativa. Trata-se da história do nascimento da nossa nação brasileira desde o encontro das três raças que a formaram e dos desdobramentos posteriores quando elas se cruzaram e deram surgimento aos primeiros elementos mestiços, protótipos do que somos hoje. O tom geral da obra de Cassiano Ricardo é mítico e, portanto, é assim que venho retratando os personagens desta história – como seres míticos, transformados em ícones eternos. No entanto, para não fazer  ilustração literal ou pintura histórica, optei por dar livre curso à imaginação e pintar sem compromissos estilísticos amarrados. Por isso, encaro cada passagem literária a ser transformada em pintura como algo totalmente novo e uso como referência a maneira simples e direta da arte popular ou mesmo a da figuração infantil na intenção de proporcionar ao meu trabalho certo frescor e liberdade. Como técnica utilizo principalmente a encáustica, mas também a pasta de cera combinada com o óleo. Em muitos casos parto de uma base acrílica ou de têmpera e, camada após camada de cor, vou atingindo o resultado vivo e colorido que penso traduzir de maneira pessoal um pouco da fantasia da obra Martim Cererê. Na medida do meu tempo irei inserindo novas imagens da série.



Ricardo A. B. Pereira - "Uiara", óleo e pasta de cera sobre tela colada em compensado, 81 X 55, 2015. Esta é a índia "Uiara", a heroína mitológica descrita em Martim Cererê, aqui numa versão "realista". Ela era pudica e tinha vergonha de ser bisbilhotada diariamente pelo sol que, naqueles tempos primitivos, nunca se punha, pois não existia a noite.




Ricardo A. B. Pereira - "O marinheiro", óleo e pasta de cera sobre tela colada em compensado, 81 X 55 cm, 2015. Este é o Marinheiro", o gajo que aqui desembarcou com Cabral. Se apaixonou perdidamente pela Uiara. Mas ela, rechaçando seus avanços, disse que só se casaria com aquele que lhe trouxesse a noite. A fim de conquistá-la, ele prometeu que a traria e assim o fez.




Ricardo A. B. Pereira - "A noite", colagem, óleo e pasta de cera sobre tela colada em compensado, 81 X 55 cm, 2015.  Este é o escravo que o marinheiro trouxe para o Brasil. Assim que ele pôs os pés fora da nau, se fez noite tão escura quanto a cor de sua pele. Portanto, ele "é" a noite.




Ricardo A. B. Pereira - "O gigante" - óleo e pasta de cera sobre tela colada em compensado, 81 X 55 cm, 2015. Da mistura dos três personagens anteriores nasceu o gigante de botas, figura forte, troncuda, corajosa e cruel que desbravou o Brasil.




Ricardo A. B. Pereira - "O monstro marinho", encáustica sobre MDF, 69 X 85 cm, 2017.  "O monstro marinho..." (p. 48). Foi assim que o marinheiro chegou aqui em busca de Uiara, nas costas de um dragão, de "dentro do anil redondo d'água".




Ricardo A. B. Pereira - "Entrando no paraíso", encáustica, óleo e pasta de cera sobre tela colada em compensado, 80 X 55 cm, 2016. Eis a entrada do paraíso tropical, por onde o gigante e sua tropa tinha que passar. Existiriam muitos perigos escondidos nela?




Ricardo A. B. Pereira - "Caminho para o interior", encáustica, pasta de cera e óleo sobre tela colada em compensado, 71,5 X 55 cm, 2016. Rumo ao interior do Brasil, para as serras das esmeraldas, um tesouro escondido no meio do mistério, misto de sonho e mito. No fim, o símbolo do caminho do autoconhecimento.




Ricardo A. B. Pereira - "O choro do tapuia", encáustica, óleo e pasta de cera sobre tela colada em compensado, 69 X 44 cm, 2016. O pobre tapuia também se apaixonou por Uiara, mas não conseguiu trazer a noite para ela. Por isso se debulha em lágrimas.





Ricardo A. B. Pereira - "A árvore dos frutos da noite", encáustica sobre tela colada em compensado,71,5 X 55 cm, 2016.




Ricardo A. B. Pereira - "A onça saltadora", colagem e encáustica sobre compensado, 66 X 42, 2016.  "Que nem um relâmpago de rabo comprido" a onça saltadora subiu árvore acima.




Ricardo A. B. Pereira - "A árvore dos homens-pássaros", encáustica sobre tela colada em compensado, 73 X 55 cm, 2016. Na árvore dos homens-pássaros "os homens cantavam que nem pássaros nus pelos galhos das árvores".





Ricardo A. B. Pereira - "O guardião do tesouro", óleo e pasta de cera sobre compensado, 2017. "Que importa a nós as brejaúvas más, na virgindade insólita onde fechas o teu supremo bem - ínvio tesouro, vigiado pelas onças dos olhos de ouro - /guardem seus cachos roxos entre flechas e eu beba a água que o sertão traz nas folhas grossas dos caraguatás?" (Cassiano Ricardo, Martim Cererê, pg. 53).





Ricardo A. B. Pereira - "O sorriso da cobra grande", encáustica sobre tela colada em compensado, 66,5 X 61 cm, 2016. "A cobra grande de olhos de safira..." espreita enroscada no galho da árvore.




Ricardo A. B. Pereira - " A praia do sol", encáustica sobre tela colada em compensado, 70 X 58 cm, 2017. Sobre a praia ... o grande sol, "girassol da manhã".





Ricardo A. B.  Pereira - "A onça que engoliu a noite", encáustica sobre tela colada em compensado,80 X 70 cm, 2017.





Ricardo A. B. Pereira - "Vivo nua" (série Martim Cererê), óleo e pasta de cera sobre tela colada em compensado, 52 x 60 cm, 2018. "[...] Só existe o sol da Terra/que mora por trás da Serra/e espia tudo o que se faz/pelos vãos da folhagem.../Se a gente brinca no banho/ o Sol da Terra vem espiar/pra se rir de nós, depois;/se bugre brinca com bugra/o sol da Terra quer saber/o que se passa entre os dois.../Assim ,não quero me casar./Vivo nua, oiço os cochichos/ do mato, a risada dos bichos/ que o Sol traz, para me espiar./Ixé xatí xa ikó... (Cassiano Ricardo, "Martim Cererê, p. 62).




Ricardo a. b. Pereira - "A noite II", encáustica, óleo e pasta de cera sobre compensado, 2017 (série Martim Cererê, p. 70-72). "Cabelo assim, pixaim./Falando em mandinga e candonga./Desceram de dois em dois [...]/E trouxeram o jongo/soturno como um grito/noturno...[...] (Cassiano Ricardo - Martim Cererê, p. 69-72.




Ricardo A. B. Pereira - "Presente de índio" (Série Martim Cererê), óleo e pasta de cera sobre compensado, 2017. "E em nome do seu povo, sem saber se quem chega é fidalgo, ou plebeu;/anjo de cor bronzeada, cabelo corredio, nu, listado em xadrez, tal como Deus o fez, vem o dono da casa e oferece o que é seu: águas, cobras e flores!"(Cassiano Ricardo, Martim Cererê, pg. 50)


Ricardo A. B. Pereira - "Os desbravadores", óleo e pasta de cera sobre tela colada em compensado, 70 X 55 cm, 2019.