domingo, 30 de dezembro de 2007

Xilogravuras IV

14 - "Minha Mulher Pós-Neo-Cubo Expressionista" - xilogravura, 1992. Neste trabalho faço uma brincadeira com a mistura de estilos díspares (esta mistura eu já fazia antes disso, aos 15/16 anos, mas sem este sentido de ironia, presente nesta gravura).

15 - "Auto-retrato com Máscara" - xilogravura, 1992. Nesta xilo, abordo o tema das máscaras de origem africana, um assunto que começava a me interessar mais nesta ocasião e que me interessa até hoje, sendo muito utilizado tanto em minhas pinturas quanto em minhas cerâmicas. Nesta versão, o aspecto irônico é o mais visível.


Continuando ainda dentro da xilogravura, prossigo este resumo do que fiz nesta técnica com a postagem de duas xilos do início dos anos 90, época em que vinha me dedicando mais a fazer cerâmica e pintura. Estas gravuras são dois exemplos de "cabeça" e "máscara" que eu viria a desenvolver muito através, principalmente, da pintura.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Xilogravuras III

10- "O melhor Amigo do Artista Contemporâneo" - xilo - 1987. O ponto de partida para esta curiosa gravura foi a foto de "Atlas", um dos vários cachorros criados por minha família. Aqui ele pode ser visto em sua versão surrealista, com escamas e rabo de peixe.

11 - "A mensagem da Arte Contemporânea" - xilogravura - 1987. Em um corpo de estátua feminina grega, acoplei uma cabeça africana com cauda de peixe e um par de tênis. O ovo voador nos traz a misteriosa mensagem...

12 - "O Êxtase do Artista Contemporâneo"- xilogravura - 1987. Uma escultura inacabada de Michelangelo serviu de ponto de partida para esta figura retorcida. A figura é estática mas a sua musculatura sob tensão parece se mover. Considero como pontos altos deste trabalho a expressão de angústia da figura e o clima de sarcasmo que emana do conjunto.

13 - "A Fonte da Arte Contemporânea"- xilogravura - 1987. Esta xilo também traz o mesmo tipo de sentimento das outras - angústia, tensão e perplexidade.


Dando prosseguimento a este tema, minhas xilogravuras, seguem trabalhos de 1987. Nestes trabalhos mudei meu processo criativo, passando a fazer minhas gravuras a partir de desenhos prévios. Contudo, a fantasia continuou solta, mudando apenas o aspecto plástico das imagens que se tornaram mais estáticas e com composições mais organizadas. Além disso, passei a trabalhar um pouco mais o claro-escuro, embora de forma muito estilizada, com sombras tão recortadas que quase se tornam formas independentes com consequente vida própria.

Tematicamente estas xilos têm um carácter crítico, pois na ocasião já começava a perceber que os meios tradicionais de arte, com os quais trabalho até hoje, já não interessavam às galerias, salões de arte e curadores de um modo geral. Neste momento passei a ter uma certa impressão de isolamento, o que me deprimia um pouco. Minha resposta e válvula de escape foram estas gravuras, um tanto cáusticas, das quais gosto sobremaneira.

Xiloravuras II

6- "Passeio na Praça" - xilogravura - 1985. Aqui o estilo deriva dos desenhos infantis e dos grafismos rupestres. Este tipo de tema e linguagem explorei concomitantemente na pintura nesta época.

7- "Stella!' - xilogravura - 1986. Mais uma de minhas fantasias eróticas misturada com meus anseios por respostas sobre os significados da vida e do universo.

8- "Surubança Opus II" - xilogravura - 1986. Puro erotismo explícito numa compsição muito movimentada e caótica. Gosto muito das figuras vazadas (brancas), contrastando com o chapado negro das demais.

9- "Arriba, Muchacho!" - xilogravura 1986. Esta é muito louca!


Prosseguindo com a xilogravura, vou postar alguns trabalhos de 1986. As composições destas xilos são complexas e movimentadas, todavia nasceram de um improviso total. Eu pintava a matriz com nanquim preto para obter mais contraste e saia desenhando direto com a goiva, sem qualquer desenho prévio de apoio. Neste processo, que lembra o "automatismo" dos surrealistas, as imagens vinham direto do meu subconsciente, sendo grande parte delas grotesca e erótica. Este tipo de exercício direto viria a ser muito útil para mim em uma série de pinturas intituladas "Sonhos Tropicais".

sábado, 22 de dezembro de 2007

Xilogravuras

1- "Eu" - xilogravura, 1985. Este foi um dos meus primeiros trabalhos feito na Oficina de Xilogravura da EBA. Me identifiquei tanto com esta imagem que a chamei de "EU".

2- "Nosferatu" - xilogravura, 1985. Aqui o formato da madeira era comprido e isto me induziu a criar esta figura alongada com capa e cara de vampiro. Daí o título.

3- "O Caçador de Vampiros" - xilogravura, 1985. Para fazer companhia ao vampiro nada como seu caçador, com estaca e tudo. Reparem no sobretudo elegante que ele usa.

4- "O Lambelaska" - xilogravura, 1985. Este grupo nasceu naturalmente. Minha mão guiou a goiva como num desenho cego e daí surgiu este fantástico casal de amantes. O título eu ouvi de um conhecido meu, cearense, que me contou que estava indo a um "Lambelaska". O curioso é que a matriz desta gravura é literalmente lascada.

5-"Hóspedes e Hospedeiros" - xilogravura, 1985. Quem é o hóspede e quem é o hospedeiro? Mais uma gravura que nasceu espontaneamente, sem nenhum desenho prévio.

Na primeira postagem feita neste blog, afirmei que colocaria um pouco de tudo sobre meu trabalho como artista plástico. Portanto, vou fazer uma pausa na pintura e falar agora da minha xilo, que comecei a produzir a partir de 1985, quando ganhei como prêmio, num Salão da EBA, um curso na extinta oficina de xilogravura do MAM (sobre a minha cerâmica e escultura falarei em outro blog, ainda a ser criado).

Na ocasião não me entusiasmei muito com o tal curso pois nada sabia de gravura de um modo geral e de xilo especificamente. Contudo, quando se aproximou a época de iniciar o curso (março de 85), comecei por conta própria a gravar com uma faca a superfície de um pedaço de madeira (extraído do piso da casa do Titã, cachorro da minha família) e, desta forma improvisada, nasceu a minha primeira xilogravura, mostrando uma árvore (nesta época estava pintando as árvores estilizadas, já mostradas aqui). Como desconhecia o processo de tirar cópias, utilizei a técnica do "frottage", colocando uma folha de papel manteiga sobre a matriz toscamente gravada e passando sobre ela um lápis 6B, obtendo uma imagem da tal árvore. Infelizmente perdi esta matriz e sua cópia.

Quando finalmente o curso no MAM teve início, vi logo que estava para me iniciar num processo maravilhoso de criar imagens, cujas características gráficas tinham tudo a ver com meu processo de desenhar e pintar. Imediatamente comecei a produzir uma série de matrizes, tomando como tema objetos simples como cadeiras e árvores, para depois passar às figuras humanas, muitas delas de cunho erótico (pois nesta época, aos 25 anos, este era um momento especialmente "quente" para mim).

Esta foi uma fase muito produtiva, tanto que após a conclusão do curso no MAM, que durou um semestre, imediatamente me inscrevi na Oficina de Xilogravura da EBA, pois ouvira falar muito bem dos professores que davam aula lá. E foi uma ótima experiência, pois somei o que tinha aprendido no MAM e o que estava aprendendo sobre xilo na EBA com minha experiência de pintura, largamente desenvolvida tanto na EBA, enquanto aluno, quanto nos anos anteriores como autodidata.

As xilos desta época são muito diretas, cheias de fantasia, erotismo e humor. Todas elas foram criadas diretamente sobre a matriz, sem desenhos preparatórios, totalmente de improviso. Naturalmente algumas não davam certo neste meu processo tão impaciente; contudo, em sua maioria, surgiam gravuras muito interessantes, vindas diretamente do meu "mar interior". E foi assim, durante uns três anos (de 85 a 89), que produzi gravuras como um "deseperado", diminuindo muito a minha atividade como pintor.

Antes de postar imagens das xilos, quero explicar duas coisas:

1- Comentei acima que a xilogravura tinha (e tem) muita relação com meu processo de desenhar e pintar. Isto acontece porque quando estou criando alguma imagem, em qualquer gênero de arte, privilegio a linha (o desenho) na maioria das vezes, sendo isto uma característica natural minha (é como ser destro ou canhoto). Isto produz resultados com aparêncica "gráfica", onde os contornos são explícitos e as cores são, geralmente, justapostas e contrastantes em diversos graus de intensidade. Portanto, minhas xilos são assim: construídas com contrastes violentos de preto e branco, apresentando linhas grossas e pesadas mas com alguns momentos de sutileza, especialmente nas xilos mais recentes (de 2000 para cá). Vocês vão notar muitas semelhanças entre várias destas gravuras apresentadas aqui com muitas das pinturas já postadas e outras que postarei mais adiante. Há aí uma influência mútua entre pintura e gravura, onde temas, estilo e alguns procedimentos se permutam. A grande diferença entre elas, no meu caso, é que nas xilos não há cor, pois desafio-me sempre a resolver a imagem em preto e branco (enquanto na pintura sou colorista ao extremo).

2- O processo técnico (resumidamente): todo processo de gravura pressupõe a criação de uma matriz onde é gravada a imagem original, da qual se retiram várias cópias numeradas e assinadas. Na gravura em metal (técnicas: "ponta-seca", "água-tinta", "água-forte", "maneira negra") a matriz é de metal, geralmente folhas de cobre ou latão. No caso da xilo a matriz é de madeira ou material parecido (linóleo ou, mais recentemente, MDF). As melhores madeiras para se gravar a matriz são a canela, a massaranduba e outras que possuam fibras bem juntas e sejam bastante duras. Também pode-se utilizar madeiras cortadas em topo, perpendicularmente as fibras, mas este tipo de corte é difícil de se conseguir hoje em dia (assim como as duas madeiras citadas, que estão caríssimas por serem raras).

Para se obter a imagem, deve-se grava-la na superfície da madeira, cirando-se sulcos com instrumentos cortantes chamados de goivas. Após a gravação feita (geralmente a partir de um desenho prévio), aplica-se uma camada de tinta para impressão sobre a matriz (com o auxílio de um rolo de borracha) e sobre esta é colocada uma folha de papel especial para gravura, sobre a qual é exercida uma pressão por processo mecânico (prensa) ou manual (uma colher de madeira pacientemente esfregada) para forçar a passagem da tinta de um para o outro suporte. A camada de tinta aplicada fica apenas nas áreas ao nível da superfície da matriz, não penetrando nos sulcos gravados. Quando a folha de papel é retirada, ela traz impresso todo o desenho que foi gravado na matriz só que virado ao contrário (direita e esquerda se invertem). A esta cópia dá-se um número de série (determinado pelo xilogravador), o título e a assina-se.

Este processo de gravar é muito antigo, tendo sido praticado há milênios na China para estampar desenhos em seda. No ocidente, durante a Idade Média, foi muito utilizado para estampar imagens religiosas em livros manuscritos e para criações de cartas de baralho, os populares "tarots". Grandes artistas desde esta época praticaram a xilogravura como Dürer (no século XVI) ou os expressionistas alemães (no século XX). No Brasil Oswaldo Goeldi foi (é) um dos grandes nomes desta técnica de gravura, tendo sido também professor da Escola de Belas Artes. Outros nomes que podemos citar são os de Adir Botelho, Roberto Magalhães, Rubem Grilo, Faiga Ostrower entre tantos outros, isto sem mencionar os gravadores populares nordestinos para literatura de cordel.

Agora vou passar a postagem das imagens de algumas das minhas xilogravuras (são mais de 300), começando pelas mais antigas, a partir de 1985.

sábado, 15 de dezembro de 2007

Pinturas Abstratas dos anos 80


"Abstrato Azul", óleo s/ mansonite, médio formato - 1985/6.



"Abstrato Amarelo", óleo sob/mansonite, peq. formato - 1985/6.



"Abstrato", óleo s/mansonite, médio formato - 1985/6.



"Abstrato II", óleo s/mansonite, médio formato - 1985/6.

Agora vou falar de uma fase abstrata do meu trabalho, a primeira delas, que ocorreu ainda quando estava pintando no atelier da EBA.

Como disse anteriormente, vivenciei com meus colegas um curso de Pintura que passava por um momento de crise, principalmente porque faltavam professores que substituissem os que se haviam aposentado. Todavia, para aqueles que estavam ali para aprender e evoluir (como eu) não havia tempo a ser perdido e o negócio era prosseguir produzindo, pesquisando e descobrindo quase sozinho uma linguagem própria.

E foi nesta pesquisa meio louca, às vezes desorganizada, que topei com a arte abstrata. Logicamente que naquela ocasião eu já vira muitos exemplos de arte abstrata (especialmente de pintura) em livros e exposições, mas nunca me interessara pelo assunto, pois me encontrava numa esfera de pensamento meio fechada à coisas que não me falassem diretamente aos meus interesses do momento.

Só foi a partir do instante em que vi um colega meu trabalhando no contexto abstrato que pude perceber o quanto poderosamente plástica pode ser a expressão de sentimentos através da abstração total. Deste ponto em diante, mas por um lapso de tempo breve, caí de cabeça na pintura abstrata, e fui ler a respeito e tentar produzir a minha propria arte abstrata.

O bom de tudo isso é que esta mudança de rumo ocorreu naturalmente, não foi uma atitude forçada de fora para dentro. Desta forma, apoiando-me em toda a bagagem técnica e plástica que já havia alcançado até aquele momento, lancei-me em minhas primeiras experiências neste contexto mas sem perder o fio da meada.

A arte abstrata, não visa representar o mundo exterior ou conceitos definidos, ela se volta para si mesma, para os seus próprios elementos plásticos buscando neles seus temas e sua força expressiva. É através destes elementos plásticos (que são os mesmos utilizados na arte figurativa mas com outros fins) que ela nos transmite sentimentos, sensações e até prazer ao invocar coisas dentro de nosso mundos interiores, que geralmente são indefiníveis e consequentemente misteriosas.

E foi desta forma, remexendo no meu "mar interior" (como costumo sempre fazer) que fui buscar as imagens que vou postar a seguir. São trabalhos que, apesar de totalmente abstratos, guardam algum algum parentesco plástico com os imediatamente anteriores, os quais já estavam se tornando progressivamente abstratos (como as "arvores" e as figuras "mironianas" por exemplo).

Olhando-as agora, vinte e dois anos depois, vejo a característica de colagem de fragmentos que estas pinturas possuem, aliada a uma grande movimentação visual causada pelo embate das cores contrastantes de alguns elementos e pelo grafismo geral das formas, que são como linhas pesadas que se retorcem em zig-zag ou ao redor do núcleo da pintura. O empastamento aplicado a espátula, além de finas linhas esgrafitadas e cores terciárias (que facilitam a passagem entre as cores saturadas) são outras características destas pinturas. As formas coloridas, especialmente no "Abstrato" e "Abstrato II", também me parecem incrustradas na massa branco-acinzentada do fundo. Por fim, percebo nestas pinturas um certo elemento "natural", algo como que vindo da própria energia da Natureza, e é disto que mais gosto nestes trabalhos.

sábado, 27 de outubro de 2007

Árvores Estilizadas





Dando continuidade a postagem de trabalhos de meados dos anos 80, quando eu já terminava o Curso de pintura ma EBA/UFRJ, segue agora a série "Arvores". Estes trabalhos são inspirados na paisagem da Ilha do Fundão, onde fica a EBA, mas a minha intenção principal era usar este tema para experimentar a pintura feita com espátula, buscando o máximo de empastamento possível. Por este motivo as árvores são muito estilizadas, tornando-se densas e pesadas.

Por conta desta característica, elas ganham um clima um tanto surrealista além de estarem dentro do contexto expressionita. A manipulção da tinta empastada aplicada a pincel sobre um suporte rígido, como é o caso do mansonite, me propiciava (e ainda me propicia) um grande prazer, pois trata-se de pintar modelando uma matéria macia como a argila, plástica e apta a receber e fixar para sempre as idéias e imagens impostas a ela. Estas experiências são precursoras das minhas pinturas feitas com pasta de cera (ou pseudoencáustica) dos anos 90.

Neste contexto pintei ainda outros trabahos à época como a série inspirada no "Pão-de-Açúcar", que postarei futuramente, além de algumas "paisagens-colagens", onde são aglutinadas num único suporte várias cenas díspares, que também ficarão para mais adiante.

As cinco pinturas postadas foram feitas em óleo sobre mansonite em 1985.

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Retratos de Bete






Agora seguem os dois retratos que fiz da Bete, além de outras três pinturas deste período (1985/86). Todas foram realizadas num clima de muita liberdade e experimentação. Minha única preocupação era encontrar novas possibilidades plásticas para me expressar. Tinta respingada, empastamentos, esgrafitos, figuras estilizadas, cores saturadas etc., valia tudo e tudo isto me dava um grande prazer.

1- Bete Loira - óleo sobre mansonite, 1986.

2- Bete Morena - " " " "

3- Love - " " " "

4- Cabeça de Zeus-" " " "

5- Homem com Colete Vermelho - " " " "

"Boissurubá"


Aí estão estes 2 estranhos trabalhos com suas figuras de bois e vacas correndo ou brigando. As figuras foram todas esgrafitadas sobre o fundo esbranquiçado, pintado com tinta a óleo.
- Surubança I e II, óleo sobre mansonite, 1986.

O Bestiário






Agora seguem algumas imagens da série "O Bestiário" (I, II,III, IV e V - óleo sobre mansonite, 1985).

Figuras Mironianas




Pintei vários outros trabalhos a partir do tema do "Mar dos Supersargaços" mas depois minha curiosidade por experimentar cada vez mais novas possibilidades técnicas e por abordar linguagens diferentes me fez enveredar em pouco tempo por vários caminhos diferentes.

Então fui abrindo frentes de trabalho, em cada uma pintando séries de dez ou mais quadros e depois mudando para outra experimentação. Como ficava muito à vontade no atelier da EBA (embora também continuasse pintando também em casa), fazia o que me vinha à cabeça sem muita preocupação com nota ou aprovação (felizmente, de um modo geral, os professores gostavam do que eu fazia). Desta fase, entre 1984 e 85 são os trabalhos postados a partir de agora.

Os primeiros 3 são influenciados pelas pinturas de Miró, tanto nas cores quanto nos grafismos.

Os seguintes talvez tenham vagamente alguma coisa com Klee (umas figurinhas que têm também relação com "Os Sábios", quadro já postado aqui no blog). Chamei a esta série de "Bestiário" .
Muito relacionados com "O Bestiário" são os 3, chamados de "Etruscos" por um dos meus professores da época. Mas prefiro chama-los de "Boissurubá".

A seguir vêm os dois retratos da Bete (minha esposa), que pintei quando começamos a namorar (ela era de uma turma à frente da minha) e que são pura fantasia apaixonada. Coloco com estes trabalhos alguns outros que de certa forma são "retratos" bastante curiosos pintados nesta época.
Por fim exponho a série de "Paisagens", onde árvores estilizadas são o tema central.

Todos foram pintados com tinta a óleo sobre mansonite (a "figura Mironiana III" foi pintada sobre papelão) sendo suas medidas de pequeno à médio formato. Alguns são muito empastados, já outros combinam tinta liquefeita jogada sobre o suporte com empastamentos. E existem trabalhos esgrafitados (já denunciando minhas experiências iniciadas nesta época com a xilogravura). Relacionando todos eles estão as cores sempre intensas, as variações de textura e os efeitos gráficos. Enfim, embora muitos sejam diferentes uns dos outros, são todos meus filhos queridos.
Figura Mironiana (I, II e III, óleo sobre mansonite, 1985).

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Mergulhando Fundo na Pintura


A partir de 1983, tendo já iniciado a parte profissional do Curso de Pintura na EBA/UFRJ, passei a me dedicar ainda mais intensamente ao meu aprendizado e ao desenvolvimento de uma linguagem pictórica pessoal. Com ou sem professor (vide texto anterior), de 2ª a 6ª feira começava a pintar às sete da manhã, quando o atelier era aberto, e só parava para almoçar ou assistir, à contragosto, alguma aula teórica. Mas geralmente só saia do atelier às seis da tarde, quando o administrador me expulsava.

O atelier de pintura, que então ficava no 7º andar, era bastante animado na parte da manhã, estando sempre cheio de colegas e visitantes curiosos, mas isso não me tirava a atenção do trabalho. À tarde o movimento caia bastante e, geralmente, só ficavam aqueles que realmente queriam trabalhar. Este era o momento mais produtivo para mim, pois eu, que morava em São Gonçalo, um município distante da faculdade (do outro lado da Baia da Guanabara), tinha que aproveitar ao máximo o tempo para criar, dar forma aos meus sonhos. Contudo, a "muvuca" não deixava de ser agradável e, enquanto pintava, ia interagindo com meus colegas num clima de trabalho e descontração muito positivo. Fiz boas amizades nesta época, que perduram até hoje.

Estava voltado, nesta ocasião, para o desenvolvimento de experiências técnicas e temáticas, ainda ligadas à fase anterior, mas já apresentando mudanças importantes. Algumas destas pinturas foram realizadas num contexto um tanto surrealista, enquanto outras eram mais soltas e despojadas. Queria sempre experimentar maneiras variadas de pintar assuntos cada vez mais diversificados, fantasiosos e diferentes. E com o aprendizado sobre técnicas e materiais que fui obtendo em disciplinas como Teoriada Pintura (na qual aprende-se a preparar telas e a lidar com técnicas tradicionais de pintura como as têmperas, a tinta a óleo, a aquarela, o afresco etc.) pude aumentar minhas possibilidades de experimentação pictórica.

Meus quadros desta época começaram a atingir um intenso colorido, o desenho tornou-se cada vez mais preponderante na organização das composições, as texturas mais variadas, a tela cada vez mais deixava de ser uma janela ilusionista para se tornar o suporte plano das minhas ideações plásticas. Movido pelo desejo de desenvolver ao máximo meu potencial como artista, me lancei ousadamente nestas experimentações pictóricas, não me preocupando muito se havia coerência entre os diversos resultados alcançados (hoje percebo que sempre existe uma ligação entre tudo o que faço).

Havia lido há algum tempo o "Livro dos Danados" de Charles Forte, no qual o autor faz uma espécie de inventário de coisas absurdas que aconteciam (e ainda hoje acontecem) pelo mundo afora e que são publicadas nos jornais: chuvas de sapos, de sangue, de peixes etc.; aparições e desaparições inusitadas, enfim coisas estranhas e, como diz minha mãe, do "arco da velha". Pois bem, este autor sustentava que deve existir algum lugar ao redor do mundo (eu diria em uma outra dimensão) caoticamente repleto de tudo o que se possa imaginar. E deste local proviriam as estranhas chuvas e outros fenômenos esquisitos e misteriosos que acontecem no nosso planeta.

Bem, com minha mente sempre ávida por mistérios, fiquei muito impressionado com estas idéias e resolvi utiliza-las como temas das minhas pinturas e desenhos. Daí surgiu a série "O Super Mar dos Sargaços" (nome que Charles Fort dava a este mundo paralelo), cheio de formas de animais assombrosos, asteróides, cometas e curiosidades turbilhonando no céu. As duas pinturas postadas com este texto, "O Caracol Emplumado" (óleo s/tela, 80 X 59 cm, 1984) e "A Tartaruga Centopéia" (óleo s/ tela, 75 X 58 cm, 1984) são dois exemplos bem-humorados, das criaturas exóticas que habitam este mundo estranho.
Nestas duas pinturas é flagrante o intenso uso do desenho para criar uma miríade de elementos decorativos como as volutas e espirais que flutuam pelo fundo das duas obras. As cores são utilizadas em sua máxima intensidade mas dentro de um equilíbrio que as mantêm num contexto harmonioso. Os "esfregaços" feitos com pincel macio sobre relevos especialmente preparados para este fim, são outra característica presente nestes quadros. E, além dos detalhes gráficos do fundo, chamo a atenção também para a "colcha de retalhos" sobre a qual passeia a "tartaruga" e para a carapaça e as plumas do "caracol".
Tudo isso somado serve, enfim, para valorizar o tom fantasioso do tema e também para torna-lo mais alegre e convidativo aos nossos olhos e imaginação.






sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Ingressando na EBA - 1981




Após o "Mundo de Holo" e dos trabalhos postados anteriormente, todos pertencentes a minha fase adolescente, seguirei adiante narrando resumidamente a minha vivência como artista plástico, tratando ainda exclusivamente das minhas experiências no campo da pintura.

Em 1981, ingressei na Escola de Belas Artes da UFRJ, com 20 anos de idade. Havia passado no vestibular para a minha opção nº 1: o Curso de Pintura. Em casa recebi todo apoio possível, embora soubesse que meu pai teria ficado muito feliz se tivesse escolhido a profissão dele: Odontologia (eu havia trabalhado como seu auxiliar, no consultório, desde os meus 13 anos).

A minha expectativa em relação a EBA era enorme, afinal eu ia ingressar numa escola de arte cuja fundação remontava à vinda da Família Real portuguesa ao Brasil no início do séc. XIX. Contudo, confesso que fiquei um tanto decepcionado com o que encontrei. Naquela época, fazia pouco tempo que a EBA havia sido obrigada a se transferir do seu tradiconal prédio no centro do Rio (onde funciona o Museu Nacional de Belas Artes) para os corredores frios da Faculdade de Arquitetura da UFRJ, na Ilha do Fundão. Consequentemente, a poeira da mudança ainda não havia abaixado completamente, fazendo com que muita coisa funcionasse de forma meio precária e adaptada. Além disso, vários professores estavam contando os dias para se aposentarem e não se mostravam muito entusiasmados com seu trabalho, ensinando de forma automatizada e pouco profunda (com várias exceções, felizmente), havendo ainda uma divisão (de certa forma presente até hoje) entre aqueles de linha mais tradicional e aqueles mais "modernos", o que acarretava uma certa confusão na cabeça dos alunos. Com isso, passei grande parte do "Básico" (2 anos) do Curso de Pintura mais cumprindo meus "deveres escolares" do que realmente crescendo artisticamente (embora hoje em dia veja claramente que sempre estamos aprendendo, mesmo que num primeiro momento não o percebamos). Ainda bem que a EBA oferecia aos seus alunos (nos anos 80 mais do que hoje em dia) diversas Oficinas Complementares; e foi desta forma que tomei contato pela primeira vez com a cerâmica e depois com a gravura (também aprendi um pouco de estamparia e elementos de marcenaria; sobre estas experiências falarei futuramente).

Findo o Básico, passei à etapa final do curso (que também teria a duração de 2 anos): o Profissional. Mas para minha surpresa e de minha turma, justamente quando íamos finalmente mergulhar nas tintas e telas, duas professoras do atelier de pintura (as de Pintura I e II) se aposentaram. Então a improvisação tomou conta de grande parte do curso, com professores de outras disciplinas "quebrando nosso galho" para que não ficássemos sem aula. Por sorte, tivemos de ínicio um bom professor, razoavelmente entusiasmado (principalmente com aqueles em que ele percebia mais talento), que de vez em quando dava umas orientações muito boas. Foi com este professor que aprendi a diferenciar com clareza forma de conteúdo, percebendo que este nem sempre é fundamental para se obter um bom resultado, mas que sem uma forma bem resolvida qualquer trabalho de arte (especialmente a pintura) está fadado ao fracasso. Posso dizer que este foi o ensinamento principal que aprendi como aluno da EBA, e que me fez ver que muitas das minhas "viagens futuristas" estavam mais para o campo da ilustração do que da pintura propriamente dita (embora eu sempre tenha me preocupado em buscar efeitos plásticos diferentes, não orientados somente para as questões de "realismo" visual) .

Por outro lado, na falta de professores nós mesmos, os alunos, nos ajudávamos mutuamente, criticando os trabalhos uns dos outros, sugerindo, dando idéias e passando informações. Para mim esta troca foi de grande valia, servindo-me para abrir ainda mais meus horizontes para as especificidades da pintura. Foi nesta ocasião que tomei um contato maior com as questões concernentes à arte do séc. XX, conhecendo um pouco melhor o pensamento e a obra de artistas que viriam a se tornar referências em meu trabalho como Picasso, Miró, Van Gogh, Paul Klee, Max Ernest, Margrite e outros. Redescobri as diversas escolas da Arte Moderna, principalmente o Expressionismo, o Surrealismo e Abstracionismo. E praticando no atelier da EBA, com ou sem professor, fui entendendo melhor as lições que recebera nas aulas de História da Arte.

Mas o início grande mudança em minha pintura viria principalmente não por interferência de fatores externos mas principalmente por causas internas, de ordem emocional. Na passagem de 84 para 85, já próximo do fim do meu curso, minha vida sofreu uma reviravolta no campo sentimental e, de uma hora para outra, me vi "sem chão". O curioso é que pouco antes do desfecho desta questão pessoal, pintei alguns trabalhos que, embora ainda estivessem muito ligados as minhas fantasias espaciais anteriores, funcionaram (hoje vejo isto com clareza) como premonições das mudanças que em breve ocorreriam em minha vida. Mais uma vez credito isto a minha intuição que sempre me guia, especialmente nestas questões que envolvem arte.

Para ilustrar este momento de mudança, vou postar 3 pinturas feitas na passagem de 83 para 84. São elas:

- Furacão - óleo s/ tela , 60 X 80 cm - 1983.

Nesta pintura, um furacão de fogo está prestes a varrer da planície uma pequena casa, pintada no 1º plano à direita. Na ocasião pintei este quadro inspirado pela leitura do Livro "Desaparições Misteriosas" de Patrice Gaston, que trata de inexplicáveis desaparecimentos em terra, mar e ar desde o passado até o séc. XX. Hoje vejo nesta casinha um símbolo do que eu era na ocasião e o furacão como a mudança que me virou de pernas para o ar.

Em ralação aos aspectos plásticos, embora esta pintura se apoie claramente na perspectiva tradiconal (ela se baseia numa foto do livro mencionado), aspectos novos no meu trabalho são apresentados pela primeira vez, especialmente as liberdades que tomei em relação as cores, exageradas ao máximo em busca de uma grande dramaticidade. O fundo negro serve para intensificar mais ainda este efeito, devido ao forte contraste que propicia.

- A Catedral das Ilusões - óleo s/tela, 80 X 60 cm - 1983.

Um mundo de fragmentos azuis é mantido unido pela forma da catedral. Externamente, círculos concentricos num fundo de fogo são como molas tensas, prestes a demolir a catedral (uma pequena torre à direita já começa a ruir). Eu era esta "castedral": um aglomerado de idéias fantasiosas e ingênuas, que não percebia que os aspectos práticos da vida não podem ser ignorados.

Aqui os contrastes intensos de cor e tonalidade, as justaposições de formas recortadas e as demais variedades de informações visuais encontram-se extremamente comprimidas no interior do espaço pictórico. Por outro lado, ao contrário do "Furacão", neste quadro desaparece a perspectiva naturalista e a "Catedral" torna-se plana como um vitral; este tipo de solução, com abandono quase total das referências naturalistas, era um elemento novo para mim. Por isso, nesta pintura, mesmo em seu aspecto de muito exagero em vários sentidos, acredito ter encontrado um quase equilíbrio entre forma e conteúdo (o tema dramático é representado por uma forma plasticamente dramática mas não literal).

- Os Sábios - guache e óleo s/tela, 55 X 80 cm.

Três figuras caricatas, de olhar melancólico, desfilam contra um fundo praticamente chapado. Contrastando com a tristeza de suas expressões, suas cores intensas e primárias vibram alegremente. É um jogo de contradições visuais que traduz um estado de espírito que está, num determinado momento, caminhando desordenadamente da exaltação à melancolia e vice-versa.

O ponto alto desta pintura é sua cromaticidade intensa, toda construída sobre uma relação de cores saturadas primárias e secundárias. O verde transparente aplicado sobre a cabeça comprida da figura central, por sua textura meio esfumaçada e algo transparente (deixando entrever a camada inicial feita com guache na cor amarela), acrescenta um elemento de interesse visual a mais ao conjunto. Na verdade, idependente da narrativa existente neste quadro, plasticamente ele é essencialmente abstrato ( como os dois anteriores, cada um com seu grau particular de abstração).

Na próxima postagem trarei mais imagens de trabalhos desta fase que considero de transição.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

O Mundo de Hôlo




A imagem que estou postando agora também pertence a fase antiga dos anos 70, que venho comentando. Trata-se da pintura intitulada " O Mundo de Hôlo" (óleo s/tela, 46 X 55 cm - 1978), que retrata o cão de estimação que me acompanhou e aos meus irmãos desde a infância. Ele morreu aos 14 anos, bem velhinho e, em sua homenagem, pintei este quadro. Na verdade foi uma tentativa minha de "sondar" o que existe do "lado de lá", mundo desconhecido que busquei representar como uma dimensão enevoada e indefinida como um sonho.

Holo está em frente a um espelho que reflete a imagem de sua nova casa ou diante de um "portal dimensional" dentro do Além? Não sei responder mas gostei muito de ter feito esta pintura, que está comigo até hoje. Ela me traz boas recordações e me faz pensar sobre o grande mistério da existência.

Além deste quadro, pintei outros em épocas posteriores para homenagear estes meus "melhores amigos" que se foram; futuramente postarei aqui estas pinturas, criadas em estilos bem diversos deste mas movidas pelo mesmo tipo de emoção que nasce de uma verdadeira amizade.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Viagens Espaciais - Fim da Jornada


Aqui concluo a postagem das imagens de pinturas feitas entre 78 e 83. No futuro, voltarei a este assunto com outros trabalhos desta fase.


19 - Luas - óleo s/tela - 46 x 56 cm - 1982.

20 - Deimos, Phobos e Stonehenge - óleo s/tela - 46 x 56 cm - 1982.

21 - A Face de Marte/ o Moal - óleo s/tela - 46 x 56 cm - 1982.

Viagens Espaciais - cont. III


A viagem continua:

15 - UFO em Órbita - acrílica s/tela, 45 x 54 cm - 1978.
16 - A Cidade Eterna - óleo s/tela, 45 x 53 cm - 1980.
17 - Mundos Alienígenas (inacabado) - óleo s/mansonite - 46 x 55 cm - 2982/83.
18 - A Sentinela - acrílica s/tela - 1978.