sábado, 5 de julho de 2008

1997 - O Ano do Concurso

O ano de 1997 foi um ano muito importante para mim. Foi nele que participei do concurso para professor efetivo do Curso de Pintura da EBA, o último desde então para Professor Auxiliar (sem exigência de mestrado). Existiam duas vagas disponíveis, mas só uma foi oferecida pela UFRJ à EBA.

Este tipo de concurso da EBA é dos mais difíceis em toda a Universidade. Ele é composto por cinco provas mais a prova de títulos. São elas: pintura do modelo vivo (suporte medindo 100 X 150 cm), pintura de um painel de grandes dimensões, prova de análise de pinturas da própria produção recente do candidato, prova escrita sobre tema sorteado e prova de aula (com presença do público) com tema sorteado 24 hs antes.

As duas primeiras provas tiveram a duração de uma semana (cada prova), sendo que era seguido um sistema de horário rígido: de 2ª a 6ªf, das 8 as 12:ooh, onde só poderiam ficar na sala da prova os candidatos (foram 5 ao todo) e os membros da banca, que eram três professores e mais um como secretário. No total, somando estas duas provas práticas e as demais, o concurso durou um pouco mais de um mês.

Para mim, e certamente também para os demais candidatos, este concurso foi extenuante física e mentalmente. Eu havia me preparado durante o ano anterior com muita dedicação e estava acreditando profundamente nas minhas possibilidades de entrar para o quadro efetivo de professores da Pintura e, portanto, me apliquei às provas de corpo e alma.

Para a primeira prova me prepara durante seis meses, desenhando muito modelo vivo nas mais variadas poses, e quando chegou a hora estava me sentindo pronto para a pose que viesse, e a escolhida pela banca foi uma bem simples, que não ofereceu nenhuma dificulade especial. A modelo escalada para o concurso era uma morena forte e bem proporcionada, que sabia posar, o que colaborou muito para o bom andamento da prova. E como queria dar ao meu trabalho um "toque" pessoal , transformei a morena em uma deusa do panteão greco-romano, intitulando a minha obra de "O Nascimento de Vênus" (versão II).

Terminei esta prova no tempo estipulado e fiquei satisfeito com o resultado.A prova pratica seguinte implicava em que cada candidato pintasse um painel com tema livre, de sua própria criação, em qualquer técnica, sobre suporte a sua escolha com no mínimo 4m². Optei, então, por fazer um tríptico que somava 7m² no total, possuindo como tema mais um assunto mitológico: "Os Argonautas".

Tanto este trabalho quanto a pintura do modelo foram realizados dentro do contexto dos "Sonhos Tropicais", série de pinturas comentada nas três postagens anteriores.Todo o material para a execução das provas práticas era de responsabilidade dos candidatos. Eu pintei os meus dois trabalhos com óleo e pasta de cera sobre mansonite (a Vênus) e compensado (Os Argonautas), tendo-os preparado eu mesmo em minha casa.

Depois das provas práticas, a prova de aula foi a mais tensa, pois cada candidato teria que preparar a sua aula sobre tema sorteado 24 h antes (mais todos os 10 temas haviam sido comunicados aos candidatos com um ano de antecedência). Eu havia preparado 8 aulas, incluindo apostilas para distribuir ao público e material fotográfico para ser projetado. Contudo, na hora do sorteio me caiu justamente um ponto para o qual não tivera tempo de preparar a aula e, por isso, tive que prepara-la realmente em 24 hs - Pintura em Grandes Formatos e Pintura com Materiais Não convencionais na Arte Moderna. Dois assuntos muito diferentes um do outro, misturados numa mesma proposta de aula. Então resolvi falar sobre os muralistas mexicanos (Rivera, Orozco e Siqueiros) no caso dos grandes formatos, e sobre a pintura de Jean Dubuffet ( o criador da "Arte Bruta") no caso dos materiais não convencionais. Apesar do nervosismo consegui dar uma boa aula para a banca e para a platéia de alunos presente à prova.

Concluídas as provas, terminado o prazo para a banca dar o resultado, eu, os demais 4 candidatos e uma platéia formada principalmente por alunos da Pintura, ouvimos a contabilização das notas feitas pelo professor secretário da banca. Feitas as contas, fiquei em 2º lugar, com uma pequena diferença de décimos em relação ao candidato vencedor, que por sinal foi meu colega de turma e é meu amigo até hoje. No primeiro momento aceitei o resultado com naturalidade, afinal num concurso tanto se pode ganhar quanto perder. Contudo, no dia seguinte, quando a "ficha caiu", baixou uma "deprê" terrível sobre mim.

Mas isto faz parte da natureza humana e logo tive que superar a frustação e seguir adiante. Todavia, o mais triste foi ver os dois anos de validade do concurso passarem sem que eu pudesse ser chamado para ocupar a 2ª vaga restante. Mas apesar da tristeza não desanimei e continuo, em intervalos de dois anos, dando aulas na EBA como substituto até que surja uma outra oportunidade de me tornar efetivo no quadro de professores desta instituição tão tradicional e da qual gosto verdadeiramente.

Felizmente, para afastar um pouco a tristeza, também foi em 97 que fiz uma de minhas melhores exposições individuais, intitulada de "Cobras e Fenômenos". Ela aconteceu no Espaço Cultural dos Correios, onde foram expostas justamente as pinturas da série "Sonhos Tropicais", das quais venho falando nas últimas postagens.

Para ilustrar esta passagem importante da minha história seguem as fotos dos dois trabalhos realizados no concurso: "O Nascimento de Vênus" (versão II) e "Os Argonautas" (este trabalho foi doado à Faculdade de Letras da UFRJ e encontra-se exposto no hall de entrada de sua biblioteca desde 1998).


1- "O Nascimento de Vênus"(versão II) - óleo e pasta de cera s/ mansonite - 100 X 150 cm - 1997.


2- "Os Argonautas" - detalhe à direita.


3- "Os Argonautas" - detalhe à esquerda.


4- "Os Argonautas" - óleo e pasta de cera s/mansonite - 7m² - 1997 (o painel central é da mesma altura dos laterais).