sábado, 15 de dezembro de 2007

Pinturas Abstratas dos anos 80


"Abstrato Azul", óleo s/ mansonite, médio formato - 1985/6.



"Abstrato Amarelo", óleo sob/mansonite, peq. formato - 1985/6.



"Abstrato", óleo s/mansonite, médio formato - 1985/6.



"Abstrato II", óleo s/mansonite, médio formato - 1985/6.

Agora vou falar de uma fase abstrata do meu trabalho, a primeira delas, que ocorreu ainda quando estava pintando no atelier da EBA.

Como disse anteriormente, vivenciei com meus colegas um curso de Pintura que passava por um momento de crise, principalmente porque faltavam professores que substituissem os que se haviam aposentado. Todavia, para aqueles que estavam ali para aprender e evoluir (como eu) não havia tempo a ser perdido e o negócio era prosseguir produzindo, pesquisando e descobrindo quase sozinho uma linguagem própria.

E foi nesta pesquisa meio louca, às vezes desorganizada, que topei com a arte abstrata. Logicamente que naquela ocasião eu já vira muitos exemplos de arte abstrata (especialmente de pintura) em livros e exposições, mas nunca me interessara pelo assunto, pois me encontrava numa esfera de pensamento meio fechada à coisas que não me falassem diretamente aos meus interesses do momento.

Só foi a partir do instante em que vi um colega meu trabalhando no contexto abstrato que pude perceber o quanto poderosamente plástica pode ser a expressão de sentimentos através da abstração total. Deste ponto em diante, mas por um lapso de tempo breve, caí de cabeça na pintura abstrata, e fui ler a respeito e tentar produzir a minha propria arte abstrata.

O bom de tudo isso é que esta mudança de rumo ocorreu naturalmente, não foi uma atitude forçada de fora para dentro. Desta forma, apoiando-me em toda a bagagem técnica e plástica que já havia alcançado até aquele momento, lancei-me em minhas primeiras experiências neste contexto mas sem perder o fio da meada.

A arte abstrata, não visa representar o mundo exterior ou conceitos definidos, ela se volta para si mesma, para os seus próprios elementos plásticos buscando neles seus temas e sua força expressiva. É através destes elementos plásticos (que são os mesmos utilizados na arte figurativa mas com outros fins) que ela nos transmite sentimentos, sensações e até prazer ao invocar coisas dentro de nosso mundos interiores, que geralmente são indefiníveis e consequentemente misteriosas.

E foi desta forma, remexendo no meu "mar interior" (como costumo sempre fazer) que fui buscar as imagens que vou postar a seguir. São trabalhos que, apesar de totalmente abstratos, guardam algum algum parentesco plástico com os imediatamente anteriores, os quais já estavam se tornando progressivamente abstratos (como as "arvores" e as figuras "mironianas" por exemplo).

Olhando-as agora, vinte e dois anos depois, vejo a característica de colagem de fragmentos que estas pinturas possuem, aliada a uma grande movimentação visual causada pelo embate das cores contrastantes de alguns elementos e pelo grafismo geral das formas, que são como linhas pesadas que se retorcem em zig-zag ou ao redor do núcleo da pintura. O empastamento aplicado a espátula, além de finas linhas esgrafitadas e cores terciárias (que facilitam a passagem entre as cores saturadas) são outras características destas pinturas. As formas coloridas, especialmente no "Abstrato" e "Abstrato II", também me parecem incrustradas na massa branco-acinzentada do fundo. Por fim, percebo nestas pinturas um certo elemento "natural", algo como que vindo da própria energia da Natureza, e é disto que mais gosto nestes trabalhos.